Quando criança, eu sempre me imaginei feliz no meu trabalho. Sério. Eu tinha uma certeza mais do que absoluta de que eu ia triunfar na minha carreira, seja ela qual fosse. E que eu ia ser muito feliz na profissão que eu escolhesse exercer. Mas na prática (vulgo vida adulta), a situação é completamente oposta ao o que eu imaginei...
Infelizmente eu faço parte do grupo de pessoas que foram obrigadas pelos pais a não correrem atrás de seus sonhos e tiveram de escolher uma "profissão de verdade e que desse dinheiro". No caso a minha família, mais especificamente a minha mãe, queria que eu fizesse medicina, e ela não estava toda errada em me fazer seguir a carreira médica. O problema é que a pessoa é para o que nasce e eu definitivamente NÃO nasci para a medicina. Se eu já fecho os olhos em cenas de filme de terror trash, imaginem eu diante de uma ferida exposta. Aliás eu cheguei até a visitar algumas universidades de medicina pra ver se pegava o gostinho da coisa, mas o primeiro cadáver que vi (e toquei) já me fez ter pesadelos por 1(um) mês e ali ficou claro que não seria eu a filha médica que minha mãe tanto desejou. Ficou para a próxima vida.
Na verdade eu sempre quis fazer cinema. Me apaixonei pela coisa depois de ver muitos filmes na Sessão da Tarde, mas a ficha só caiu mesmo de que era isso o que eu queria fazer depois de assistir a Jurassic Park no cinema. Steven Spielberg foi a minha primeira grande inspiração e absolutamente tudo o que ele fazia, eu consumia.
Obs.: Eu tinha apenas 10 anos quando o imprinting aconteceu e mentalmente eu gritei "QUERO SER CINEASTA!".
Nada e nem ninguém poderia me fazer mudar de ideia pois eu tinha uma certeza mais do que absoluta de que eu havia nascido pra isso, amava isso e deseja isso com todas as minhas forças. Até chegar nos meus 15 anos e começar a ser forçada a investir em uma "carreira de verdade".
Sim, pais fodem com seus sonhos (desculpa aí o palavreado mas essa é a mais pura verdade). Não por mal, mas fodem. Não faça isso com seus filhos, quebre esse ciclo desgraçado que só faz criar um ser humano infeliz, punheteiro e frustrado (desculpa a sinceridade e o linguajar meio vulgar mas essa é outra verdade). Mas voltado, me vi obrigada a enterrar minha carreira cinematográfica a 7 palmas abaixo da terra e a abraçar algo que não fazia a mínima ideia do que deveria ser mas que teria de fazer dar certo.
Depois de anos de incerteza, e após um teste vocacional, veio a sugestão de fazer Design Gráfico. Gostei do que vi, do que li, achei interessante e menti pra mim mesma de que essa era a carreira certa pra mim. Menti tanto que vivi isso por 13 longos FUCKING anos. Só que gostar é uma coisa, amar é outra completamente diferente.
Mesmo estando enterrado, o sonho de fazer cinema sempre aparecia pra mim. Constantemente na verdade. Confesso que até hoje eu ensaio meu discurso do Oscar durante o banho e assisto a todas as premiações que existem (com direito a bolão e tudo). Mas nunca tive coragem de largar tudo e fazer o que sempre amei. Por que? Porque isso "não é uma profissão de verdade" (olha aí como a lavagem cerebral dos pais pode causar traumas que duram anos! NUM FODE, MERMÃO!).
Concluindo: Veio a pandemia, e com ela a demissão de um emprego que era relativamente bom mas nada de muito empolgante e estimulante, mas que pagava as contas. E eu me vi em uma encruzilhada profissional.
E agora? O que é que eu faço da minha vida?
E adivinhem o que me salvou da loucura? Claro, o cinema! Cada filme assistido naquele período, reconfortava meu coração, me fazia sorrir e a recuperar as esperanças de um futuro melhor. E ali veio outro imprinting: chegou a hora de investir na minha carreira no Audiovisual!
Mas fazer uma transição de carreira assim, comigo já na contagem regressiva para os 40 anos, seria uma loucura!... MAS F0DA6, EU VOU FAZER! Cansei de viver frustrada numa profissão que nunca me encheu os olhos, por mais que pague as contas.
E aí aconteceu a coisa mais maluca de todas (essa minha vida dava mesmo uma série, não à toa eu escrevo sobre ela desde 2017): eu consegui um ótimo emprego como Designer!
É, sério! A empresa é A Empresa (Great Place To Work), oferece um ambiente de trabalho saudável, bônus rechonchudo e o mais louco disso tudo, eles me dão um salário digno! Parece até piada mas não. É o sonho de todo profissional da área... menos o meu.
Me vi de novo em uma encruzilhada profissional, é desse emprego que virá o $$ para investir nos estudos que me levarão a exercer a carreira que sempre quis, mas ainda assim não consigo mais ter o mesmo brilho e tesão que tinha antes de assumir a minha verdadeira paixão/vocação.
Tudo isso me fez lembrar de uma cena de um filme que eu adoro: O Melhor Amigo da Noiva.
Mais especificamente, me fez lembrar da cena final, em que Tom finalmente toma coragem e se declara para Hannah. Só que isso com ela já no altar e prestes a dizer SIM para Colin. Era a cartada final de Tom, e ele vai e fala o que tem de ser dito. E dá certo. Hannah o escolhe e ao se justificar para Colin, ela fala uma frase mais do que perfeita: "Eu sinto muito, de verdade. Eu não espero que um dia você me perdoe. Mas eu quero que saiba que você é um homem perfeito, só que não é perfeito pra mim."
Que coisa, foram 13 FUCKING anos tentando me convencer de que Design Gráfico era a profissão certa pra mim mas os empregos que apareciam (e que eu acaba aceitando por falta de coisa melhor feat baixa auto estima profissional) só me faziam enxergar o contrário. E agora que encontrei um "Colin" percebo que sempre quis o "Tom".
E fica a dica final: NÃO SEJA UM PAI CUZÃO. DEIXE SEU(SUA) FILHO(A) ESCOLHER O "TOM" que ele(a) quiser. No final, quem vai viver esse "casamento" será ele(a), então deixe-o(a) viver o que é melhor pra ele(a).
Fui demitida. "Colin" pediu o divórcio. Deveria estar em pânico mas a sensação é de alívio total. É claro que, com isso, terei de mudar toda a programação e vários planos que já tinha dado início... mas tudo, o "Tom" tá logo ali na frente me esperando e sinto que agora sim, vamos poder viver a nossa tão aguardada história de amor cinematográfica.
:)
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