Licor de Cacau

Licor de Cacau - 1ª Temporada - #10 - Rosa Choque com um pouco de Glitter

abril 28, 2017Cacau dos Santos

Imagem: Unsplah
(1) Sobre fundo preto surgem, em letras brancas, sucessivamente, as seguintes frases:

AVISO: A história a seguir contém linguagem atípica, palavrões, termos em inglês, muitos pontos de exclamação e referências da cultura pop e, devido ao seu conteúdo, este pode causar crises de risos e nostalgia aos leitores. Todos os personagens e eventos - mesmo aqueles baseados em pessoas reais - são fictícios. Se por ventura você se identificar com algo que foi escrito ou com alguém citado, isso significa que a sua loucura se parece um pouco com a minha e aproveite esse momento de coincidência para me seguir no instagram: @thecacaudossantos

(2) As frases desaparecem em fade e surge título da série seguida da primeira cena


LICOR DE CACAU
EPISÓDIO 10 – Rosa Choque com um pouco de glitter
Escrito por: Cacau dos Santos

Rio de Janeiro, Rio Comprido
13 de março de 2017
18h22 pm

Música de cena:


- Muito bem, já tá filmando, quando quiser pode começar a falar – digo a Valentina.
- Tá bem... – e ela respira fundo, engole um choro que ameaça se manifestar e começa a falar – Oi, meu nome é Valentina Beatriz Matarazzo, eu tenho 28 anos, sou natural do Rio de Janeiro e como vocês podem ver eu sou cadeirante. OK que isso já estava explicito já que o título desse vídeo vai ser O DESABAFO DE UMA CADEIRANTE mas é que para muitos, ou melhor, para a maioria, é preciso que eu explique as minha condições e explique também determinas coisas básicas. Viver assim não é fácil, vocês que são cadeirantes sabem a que me refiro mas aos que andam ser cadeirante é visto como uma coisa tão triste, um fardo digno de pena e classificado como inferioridade. Quando um andante vê um cadeirante ele automaticamente pensa “coitado, é um infeliz”, eu sei disso. Sei porque eu sinto isso em seus olhares, em seus julgamentos, eu vivo isso o tempo todo, a toda hora, todos os dias da minha vida desde que nasci! Os que não me conhecem, ao me verem nessas condições, automaticamente já me tarjam de pobre coitada. As pessoas elas automaticamente subestimam a minha capacidade de pensar, de agir, de viver. Elas não veem a pessoa, veem a cadeira. Pois bem, eu tenho uma revelação a fazer a todos vocês: antes de ser cadeirante eu sou um ser-humano. Eu vivo, eu tenho sentimentos, eu tenho meus desejos, minhas necessidades e uma fome de viver tão grande quanto a de qualquer pessoa que anda. Aqui dentro desse peito bate um coração que é cheio de amor, dentro dessa cabeça há um cérebro que pensa, que tem opiniões e tem muito a expressar. Dentro dessa minha veia também corre sangue. Aqui há carne, osso, aqui há uma pessoa. Uma pessoa que come, bebe, caga, transa, sofre, ri, xinga, vive... uma pessoa igualzinha a você!

Ela para por alguns segundos, respira fundo e continua:
- Não, eu não ando, mas isso não quer dizer que eu não exista. Eu estou aqui, eu tenho vida, eu sou uma vida e chegou a hora de vocês saberem e respeitarem isso. Eu e todos os cadeirantes existentes nesse planeta também são pessoas como você. Recentemente eu passei por uma situação inadmissível e que me levou a gravar esse vídeo, eu gosto de comida japonesa e fiquei sabendo que inauguraram um restaurante a algumas quadras da minha casa. Minha irmã Virginia, que também adora comida japonesa, decidiu me levar até lá. Até aí tudo bem mas ao chegar já nos deparamos com a primeira barreira que foi a entrada. Não havia uma rampa de acesso então minha irmã teve de inclinar a cadeira pra trás para que eu pudesse entrar. De todos os males esse foi o menos pior, acreditem, o que há de estabelecimento sem rampa de acesso... isso é mais comum do que se pode imaginar! – seu olhar fica vago por alguns segundos até que ela volta a se concentrar e olha de novo para a câmera do celular - enfim, entramos e o restaurante era bem menor do que o imaginado mas deu pra gente se encaixar em uma mesinha num canto qualquer. Minha irmã chamou o atendente e pediu o menu para dar uma olhada nos pratos da casa e quando ele voltou só trouxe um menu. UM! – e ela faz um sinal de 1 com o dedo indicador da mão direita – Ela então pediu outro pra mim e ele respondeu na hora “Aaah ela também vai querer?”... vejam bem, ele achou que eu não ia escolher a comida, que essa tarefa seria da minha irmã. Foi automático o seu julgamento, ele subestimou a minha capacidade de raciocínio. Respirei fundo e disse “Eu também vou querer, afinal não vim aqui para ver a decoração do ambiente, vim aqui para comer”. Sem graça ele foi e pegou outro menu e me entregou. Vi que ele se arrependeu do seu pré-julgamento e tentei relevar como faço na maioria dos casos mas as coisas estavam prestes a piorar...

Valentina para novamente e dá um longo suspiro. Eu continuo a olha-la através da câmera do meu celular e é inevitável não recordar do dia em que nos conhecemos. O ano era 2002, 1 ano após o show dos Backstreet Boys no Maracanã. Que show foi aquele?! O primeiro grande show da minha vida... bom, O primeiro show da minha vida, na verdade!

FUMACINHA DE LEMBRANÇA

Eu tinha acabado de completar 18 anos mas ainda tinha sonhos de 16 e atitude de 14. Eu era muito moleca para alguém de 18 anos e minha mãe fazia questão de me manter nessa condição já que não aceitava o fato de que eu estava crescendo e... enfim, detalhes para outra sessão de terapia com a Dra.Luiza.

Lá estava eu rumo ao Maracanã novamente, para um encontro com outras fãs para celebrar 1 (um) ano do primeiro show dos BSB no Brasil. Pois é, fã que é fã tem dessas coisas, celebra tudo, perguntem as fãs do Justin Bieber se elas não fazem ou já fizeram festa para comemorar o aniversário do lançamento do single “BABY”?

Então, um grupo de fãs que se intitulavam THE ONE BSB FC BRAZIL marcaram um encontro no dia 3 de maio de 2002 (na época tudo era divulgado por corrente de e-mail!), na entrada do portão 5, às 16h, para celebrar o aniversário de 1 ano do primeiro show da banda no Brasil (teve até bolo, viu! De cenoura com cobertura de chocolate). Cheguei atrasada, como sempre, já que peguei um trânsito chato na ponte Rio-Niterói (bom essa era a desculpa que sempre dava mas a verdade era que eu me atrasava pra tudo porque sempre fui péssima com horários. Mas morar em São Gonçalo tinha dessas vantagens pois era sempre possível colocar a culpa no trânsito da Ponte Rio-Niterói). Mal cheguei e já fui procurar as minhas amigas mas nada delas e foi então que eu a vi, linda, imaculada, com a bandeira oficial dos BSB sob as costas (só quem tinha muito poder tinha aquela bandeira na época, era muito luxo e ostentação, hoje em dia qualquer um compra uma assim no Ali Express por 15 Reais), os cabelos longos, cacheados, soltos, cor de mel, de óculos de sol e um ar de superioridade que encantava e dava medo ao mesmo tempo. Sentada em sua cadeira de rodas cor de rosa choque com um pouco de glitter porque já que é pra chamar a atenção então que seja com uma cadeira de rodas cor de rosa choque com um pouco de glitter, né mesmo? Me apaixonei por ela na hora! Aos poucos fui me aproximando. Dei 1 passinho, depois outro, e depois outro, chegando de ladinho, até que... BLIM, me sentei ao seu lado, no chão mesmo. Nem liguei, só queria uma oportunidade para me aproximar e puxar papo. E me aproximei. E puxei papo mesmo com um doce e sonoro:
- Oi!
- Oi – ela respondeu de boas.
- Amei a bandeira.
- Aaaah valeu.
- Comprou aonde?
- Não é minha, é da Thaís.
- Thaís Carter? – perguntei assustada.
- A própria.
- Aaah tá... – desanimei na hora.

Sim, as fãs de BSB usavam o sobrenome do seu integrante favorito. Era lei. No caso eu era Cacau McLean, fã do AJ (o tatuado cachaceiro, saca?). E sim, Thaís Carter (fã do Nick, o loiro com cara de bebê) era a presidente do THE ONE BSB FC BRAZIL e todas, eu disse TODAS odiavam a Thaís porque ela era a presidente do THE ONE BSB FC BRAZIL e todas queriam ocupar esse cargo tão importante. Fora que Thaís era a típica filhinha de papai que conheceu os Backstreet Boys antes de todo mundo, quando foi comemorar seus 15 anos na Disney e ao chegar nos Estados Unidos viu um clipe deles na MTV gringa e ainda teve a chance de ir a 2 shows deles fora do Brasil. Thaís era a personificação daquilo o que toda a garota da época queria ser – magra, rica e presidente do THE ONE BSB FC BRAZIL.

- Ela me emprestou a bandeira pra tirar uma foto – me explicou a tal bela jovem da cadeira de rodas cor de rosa choque.
- Pô legal... será que ela me deixa tirar uma foto também?
- Não sei, pergunta pra ela.

E até cogitei a hipótese de ir perguntar isso a Thaís mas só de olhar pra ela eu já me sentia intimidada. A garota transpirava confiança e superioridade e eu transpirava o oposto, então...

A olhei de longe, conversando com um grupo de fãs que a cercavam e a veneravam e a odiavam ao mesmo tempo, mas era preciso bajular Thaís Carter afinal ela era “A” Thaís Carter toda poderosa e soberana. Nossos olhares chegaram a se cruzar por alguns segundos mas rapidamente os desviei. A pouca coragem que havia dentro de mim de ir até ela e pedir sua bandeira emprestada morreu na hora. - Deixa pra lá, não acho que ela vai topar me emprestar – digo toda cabisbaixa a garota da cadeira de rodas cor de rosa choque com um pouco de glitter.

Ela então vê que eu fiquei triste e rapidamente pega a bandeira e a joga nas minhas costas.

- Aqui, vai rápido, tira logo essa foto – diz ela.
- HÃ?! – me assusto.
- VAI LOGO, CARAMBA! Tira essa foto antes que a Thaís veja!

E rapidamente eu tiro minha câmera digital da bolsa e bato a foto, que saiu super tremida mas foi uma vitória na época! E eu a usei como foto do meu perfil do Messenger durante anos! Que orgulho eu tinha dela (hoje tá perdida em uma das minhas pilhas de cds).

Depois de bater a foto eu coloquei a bandeira de volta nas costas da bela jovem de cadeira de rodas. Olhei para Thaís que não havia percebido nada, estava ocupada demais sendo venerada pelas fãs que a cercavam. Voltei meu olhar para a jovem e lhe agradeci:
- Muito obrigada, de verdade. Não sabe o quanto essa foto é importante pra mim!
- Disponha – e ela me sorri o sorriso mais amigável que havia visto até aquele momento.
 - Prazer, Cacau McLean.
- Prazer, Valentina Richardson.

E assim nascia a nossa amizade.


Voltei para o momento atual e olhei bem séria para Valentina que respira fundo, engole o choro novamente e volta a falar direto com a câmera:
- Bom, escolhemos a comida e fizemos o pedido até que houve uma hora em que eu quis ir no banheiro. Minha irmã perguntou ao tal garçom onde era e ele nos mostrou a direção só que o tal banheiro era minúsculo e a porta tão estreita quanto a da entrada do restaurante. Ia ser uma dificuldade tremenda ela entrar comigo e me colocar sentada na privada. Sem contar que ainda tinha uma subida! Virginia então perguntou se não haveria outro banheiro que eu pudesse utilizar e o tal garçom foi perguntar a sua gerente se era possível eu usar o banheiro do que escritório pois parece que esse era um pouco maior. A tal gerente, vendo a cena, na hora soltou um sonoro “não, não é possível, esse banheiro é restrito somente para os funcionários”. Minha irmã insistiu, com educação mas insistiu, explicou que aquele banheiro já era pequeno e apertado demais para um andante, o que dirá para um cadeirante. E foi então que aquela mulher asquerosa nos deu uma resposta totalmente ríspida e desnecessária! Ela virou para a minha irmã e falou “esse banheiro foi projetado para gente normal, me desculpe”... OK, pensem numa pessoa sem-graça e sem reação.... pois é, essa pessoa, naquele momento, era eu... como assim “gente normal”?

Cara que mulher vaca! Ainda bem que eu não estava presente porque não ia prestar!

- Na hora a minha irmã rebateu com “Se tivesse sido projetado para uma pessoa normal então eu conseguiria entrar com a minha irmã”, e na hora essa gerente escrota respondeu com “Me desculpa mas onde que sua irmã é normal? Não vejo normalidade nenhuma nela e só tem esse banheiro aí para usar, se não gostou então pode ir embora e da próxima vez vão para um lugar que tenha um banheiro adaptado para gente como ela”... pois é, essa sem-noção não só desdenhou da minha condição física como também, praticamente, nos expulsou do local. Agora imaginem como eu me senti vendo e ouvindo aquilo tudo? Eu me senti péssima, um lixo! – e ela começa a chorar de novo.

Da hora que eu cheguei, que era por volta de umas 13h, até aquele momento, Valentina só fazia chorar. Ela estava mesmo arrasada. Ela já havia passado por situações de preconceito mas nada tão brutal quanto aquilo e, de fato, o que essa mulherzinha do restaurante fez foi desnecessário!

Lhe entrego 1 lenço de papel e ela assoa o nariz e enxuga as lágrimas. Lhe ofereço 1 copo d´agua e ela faz que não com a cabeça. Respira fundo, olha novamente para a câmera e volta a falar:
- A minha irmã queria partir para cima da mulher. Começou a ofende-la verbalmente e foi ofendida de volta. Foi um festival de baixaria. Eu me mantinha calada, não conseguia falar absolutamente nada, estava em estado de choque. A coisa só não ficou realmente feia porque o tal garçom e alguns dos clientes presentes seguraram as duas. Foi então que Virginia pegou na minha cadeira e me tirou dali. Só quando cheguei em casa é que cai em mim, voltei pro corpo por assim dizer e me dei conta do que havia acabado de acontecer e comecei a chorar! Muito! Chorei tanto que pensei que fosse virar lágrimas! Isso foi no último sábado, dia 11, e desde então só faço chorar. Antes era um choro de mágoa e agora é um choro de raiva, de revolta! É claro que eu e minha família vamos entrar com uma causa contra essa mulher e esse restaurante mas pra mim só isso não basta. Eu quero fazer mais, quero deixar claro que casos como esse não podem passar despercebidos. Isso foi muito sério! Fui hostilizada do momento em que entrei naquele maldito restaurante até a hora que sai, e não só pela tal gerente mas também pelo o tal garçom que duvidou da minha capacidade de fazer algo simples como escolher uma comida. São esses pensamento ultrapassados que ferem a alma e a decência do cadeirante. Pessoas como essa mulher não podem simplesmente pagar uma multa e seguir em frente como se nada tivesse acontecido. Pessoas como esse garçom precisam entender de uma vez por todas que não somos incapazes. Eu precisava expor o meu caso e sabem por quê? Porque como eu disse no início desse vídeo eu sou um ser humano como qualquer outro e mereço respeito. Eu sou uma vida e a minha vida não vai passar batida. Eu posso não andar, verdade, mas eu posso pensar, sentir, falar e estou aqui falando nesse momento que eu não vou mais deixar ninguém me rebaixar só por causa de um pré-julgamento e se você estiver vendo esse vídeo e se identificou com isso o que aconteceu comigo então quero que saiba que você também deve exigir ser respeitado pois você é uma vida como eu. Você tem valor sim, você pode mais. Nós podemos mais. Exija respeito pela sua vida!... Tá bom, pode parar de filmar agora.

E encerro a gravação.

- E aí, o que achou? Ficou bom? – pergunta ela curiosa.
- ... – respiro fundo - ...ficou perfeito, Tina. Sério. Vou pra casa agora editar e assim que estiver pronto eu te mando por e-mail e você posta no YouTube.

Levanto da cadeira e lhe dei um forte abraço.

- Eu estou com você e vou te ajudar no que for necessário nesse caso. Você sabe – lhe digo ao pé do ouvido. - Eu sei... – responde ela já chorando de novo. Coitada, está mais sensível do que o de costume e não por menos. Me doí o coração vê-la assim, Valentina sempre foi durona, a forte da patota e agora era a fragilidade em pessoa. Que vontade de pegar essa vaca dessa mulher que lhe ofendeu e lhe bater com um cachorro morto até fazer o cachorro voltar a vida mas isso seria uma agressão... ao pobre cachorro.

- Vai dar tudo certo, Tina, confia.

Pego o celular, o coloco na bolsa, me despeço novamente dela e vou embora. Antes de ir para o ponto de ônibus eu não resisto e dou uma passada no tal restaurante da discórdia. Pego a câmera de novo e começo a fazer uma gravação.

- Aqui, esse é o lugar onde tudo aconteceu – digo enquanto vou filmando a fachada – Foi aqui que a Valentina foi hostilizada. Eu peço a todos que não frequentem esse lugar e nos ajudem com essa denuncia, dê um joinha nesse vídeo, compartilhe, faça barulho nas redes sociais mas não deixe essa história passar em branco.

Encerro as gravações e vejo que há uma mulher me olhando, seria ela a gerente vaca da parada? Vai saber. Volto para o ponto de ônibus, pego o 432 e sigo de volta para a minha casa.



Rio de Janeiro, bairro das Laranjeiras
14 de março de 2017
4h09 am

Virei a noite editando o vídeo da Valentina, não ficou assim uma Brastemp porque não manjo muito desses paranauês, só o básico do básico de edição mas consegui finalizar todo o material e saiu legal. O compartilho no wetransfer e, em seguida, mando o link de download para o e-mail dela. Feito isso vou dormir, tô exausta! Não consigo pensar em mais nada... CARAMBA NÃO POSSO ESQUECER QUE NA QUINTA EU TENHO UMA ENTREVISTA COM O TAL DE LIPE LÁ NA AGÊNCIA GRID! Cara se eu conseguir essa vaga... eu PRECISO pegar essa vaga, o dinheiro da rescisão já já acaba e como vai ser pra pagar o aluguel? Aliás o condomínio subiu de novo! Tá foda morar no 336... OK Camila, foco, e o foco agora é dormir!

8h29 am
Dormi quase nada, acordo com a Cake tentando pular na minha cama e me pedindo atenção. OK Cake, eu acordei.... vou trocar sua água e ração, calma aí... celular vibra... whatsapp da Virginia:
VIRGINIA: Acabei de ver o vídeo que você editou, ficou perfeito! Tô chorando aqui com a Tina, vamos subir isso no YouTube agora!
EU: :´) que bom que gostaram. Sim, sobe no YouTube e assim que estiver no ar me avisa pq vou compartilhar no meu face e twitter.
VIRGINIA: ;)

12h23 pm
VIRIGINIA: Postado! Segue link: https://youtu.be/PUoJHHmQ99k O DESABAFO DE UMA CADEIRANTE – EU SOU SIM UMA PESSOA NORMAL

Na hora eu compartilho na minha timeline no modo publico e peço aos meus amigos que façam o mesmo:
Gente, essa história NÃO PODE ser esquecida, ajudem compartilhando e dando um LIKE no vídeo, por favor. E quem puder denunciar o estabelecimento, ir lá na página oficial deles e dar uma classificação baixa, eu agradeço.

3h18 pm
Whatsapp da Fabricia.
FABRICIA: Cacau eu vi o vídeo que você postou da Valentina, estou abismada com o quê houve! Que mulher escrota da porra! Cara não sei se te contei mas a Mallu tá fazendo faculdade de jornalismo e tá estagiando no Jornal Extra, posso passar essa história pra ela? EU: DEVE! Por favor! Faça isso, cara!
FABRICIA: ;) Chá comigo

Olho para a câmera e falo: Caramba, imaginem se esse vídeo vai mesmo parar no Extra? Seria foda!

5h54 pm
FABRICIA: Cacau, a Mallu precisa do contato da Valentina, me passa aí pra passar pra ela.
EU: Claro, anota aí...

Olho para a câmera e falo: Caralho, está acontecendo! Está mesmo acontecendo!

Corro para o YouTube e vejo que o número de visualizações cresceu significativamente da hora em que Virginia o postou até aquele momento. Tipo, começou com míseros 45 views e agora já vai para 800! Que só faça crescer, em nome de Deus Pai todo poderoso!


6h19 pm
Whatsapp da Valentina.
VALENTINA: Cacau de Deus, pra quem vc passou o meu telefone?
EU: Para a namorada da Fabricia, a Mallu, pq?
VALENTINA: O q ela faz? É mesmo jornalista?
EU: É sim, e tá estagiando para o Jornal Extra. PQ?
VALENTINA: Aaah tá, pq me ligaram agora do Extra perguntando se não poderia postar o meu vídeo no facebook deles.
EU: WHAAAAAAAAAAAAAAAAAAT?!!! (emoji assustado)
VALENTINA: Pois é, querem divulgar o meu vídeo!!!! Achei que era trote, juro! Mas parece que é verdade.
EU: É VERDADE CRIATURA, DEIXA ELES COMPARTILHAREM ESSA PARADA!!!!
VALENTINA: Tá! AÍ MEO DEOS! Não tô crendo, meu vídeo vai aparecer no Extra! AAAAAAAH!!!!
EU: AAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!!!!!!

Depois de tudo o quê houve é muito bom ver a Tina animada desse jeito.

8h26 pm
E aconteceu, o vídeo de Valentina foi postado na página oficial do Jornal Extra! E com isso o número de views cresceu absurdamente! O DESABAFO DE UMA CADEIRANTE – EU SOU SIM UMA PESSOA NORMAL já tem 12 mil visualizações, 7 mil likes e 82 dislikes... como assim alguém dá dislike numa coisa dessas? Desses 82 aposto que 10 são de funcionários do tal restaurante da discórdia e 20 são de amigos e familiares dos envolvidos mas tudo bem, TUDO BEM, os Likes vão esmagar essa corja! Aguardem...

9h34 pm
O vídeo O DESABAFO DE UMA CADEIRANTE – EU SOU SIM UMA PESSOA NORMAL já tem 46 mil visualizações, 29 mil likes e 305 dislikes. Sério, que coisa MAR LINDRÁ, GZUIS!

9h50 pm
Whatsapp da Virginia.
VIRGINIA: Cacau, a Valentina me contou que postaram o vídeo dela no face do Jornal Extra e o número de visualizações tá demais! Me explica isso direito?
EU: É isso o que ela te contou, a namorada da Fabricia faz estágio lá e quando pedi que curtisse o vídeo ela aproveitou pra mostra-lo ao chefe dela e eles adoraram o desabafo da Tina e decidiram postar nas redes sociais e é isso, tá bombando! E que bombe mais! O objetivo não era esse? Chamar a atenção? Então...
VIRGINIA: Sim, esse era o objetivo mas... UAU! Sair no Extra foi demais! Não esperávamos por isso!!!!
EU: Ninguém esperava mas que bom que aconteceu, não é mesmo?
VIRGINIA: É, que bom que aconteceu
EU: :)

9h34 pm
O vídeo O DESABAFO DE UMA CADEIRANTE – EU SOU SIM UMA PESSOA NORMAL já tem 180 mil visualizações, 34 mil likes e 390 dislikes.

11h29 pm
... 250 mil visualizações! CARAÍ! Não para de crescer!



Rio de Janeiro, bairro das Laranjeiras
15 de março de 2017
8h41 am

Já acordo com o celular vibrando debaixo do travesseiro. O pego e vejo que é um Whatsapp da Valentina.
VALENTINA: Vc ñ vai acreditar? O pessoal do Jornal O Globo quer me entrevistar! Parece que meu vídeo gerou o maior bafafá, rendeu altos comentários e chamou a atenção do povo e agora eles querem fazer uma entrevista exclusiva comigo! Eles me ligaram bem cedo perguntando se não podem vir aqui na minha casa amanhã às 9h? E eu disse que sim! E eu quero muito que vc esteja presente, afinal foi vc quem gravou e editou o vídeo, vc faz parte dessa história tbm.
EU: Amanhã às 9? Porra, amanhã é minha entrevista! (emoji assustado - 😲)
VALENTINA: A entrevista é que horas?
EU: Às 14h.
VALENTINA: E é aonde?
EU: Na Barra. Ali no Downtown.
VALENTINA: Aaaah dá tempo! VC sai daqui e pega o metrô na Afonso Peña. Eles falaram que a entrevista não vai demorar mais de 1 hora. Vc vem, né?

Caramba, de um lado tenho uma entrevista para Jornal O Globo e, do outro, uma entrevista de emprego, tudo no mesmo dia. Pior que não posso abdicar de nenhum dos dois! O jeito é madrugar, ir para a casa de Valentina, fazer a entrevista e, depois, correr para a agência na Barra! QUE BARRA!

9h22 am
Whatsapp de Chouri.
ANTÔNIO/CHOURI: Cara que viagem esse vídeo da sua amiga. Foi uma escrotice o que fizeram com ela. Vacilo. Tacar cocô na vidraça desse botequim.
EU: Você viu o vídeo?
ANTÔNIO/CHOURI: Claro que vi! E compartilhei no meu feici. VC ñ viu, ñ?
OLHO PARA A CÂMERA E FALO: pra ser sincera não vi. Deixei de seguir o Chouri no face então qualquer novidade que ele posta não aparece nas notificações. Vacilo, tô sendo escrota demais com ele. Parar com isso é agora.

Volto para o Whatsapp e o respondo.
EU: Não vi, desculpa, tava mega enrolada ontem por conta desse vídeo mas vou agora no seu face curti seu compartilhamento. Aliás você viu que ele foi postado na página do Jornal Extra?
ANTÔNIO/CHOURI: Vi cara, que irado!
EU: E você não sabe da maior? Eles vão fazer uma entrevista com ela amanhã e deve ir ao ar até o final do dia! Demais, cara, quero mais que essa história renda!
ANTÔNIO/CHOURI: Eu tbm, se precisarem de qualquer coisa e eu puder ajudar é só gritar ;)
EU: :*

Fofo! Como não amá-lo?... Como amigo! By the way, mandar zap para o Pedro:
EU: Oi Pê, tudo bem? Soube o que houve com a Valentina? Viu o vídeo dela? Um que compartilhei no face. Cara esse vídeo tá rendendo muito e acabou sendo divulgado na página do Jornal Extra! PHODA! Depois dá uma olhada e curte também, precisamos do maior número de curtidas possível!

Pedro só visualiza a mensagem mas não a responde. Ainda fico aguardando ansiosa por algum sinal de vida dele mas nada. Nem um “oizinho” ou um emoji piscando como quem diz “bacana isso, hein, piranha”. É, a situação tá mais complicada do que o esperado mas, sinceramente, não vou me estressar com isso agora, não. Vou concentrar toda a minha atenção no caso da Tina e na minha entrevista de emprego que ganho mais.



Rio de Janeiro, bairro das Laranjeiras
16 de março de 2017
5h45 am

Caralho, custo a acreditar que estou acordando às 5 e 45 da madruga! Levantar essa hora é uma desgraça! Respeito por quem consegue essa façanha, serião! Mas o que a gente não faz por amor a amiga cadeirante e sua entrevista para o Jornal O Globo. Levanto da cama, me arrasto para o banheiro, tiro o pijama e me jogo debaixo do chuveiro. Tomo um banho quentinho que só faz aumentar o meu sono... OK ACORDA, CAMILA! ACORDA! FOCO E ACORDA!

Depois do banho eu corro para o quarto e escolho uma roupa coringa – que orne com a entrevista para o Jornal e case com a entrevista de emprego... preto é sempre elegante, meu vestido preto da Forever 21 tá de bom tamanho. Vestido longo preto + sapato Oxford. Perfeito. É desse que eu vou.

6h37 am
Já estou devidamente vestida, maquiada e perfumada. Chamo o Uber e ele chega em menos de 10 minutos. Me despeço da Cake e desço para pegar o meu carro e sigo rumo ao Rio Comprido.

6h58 am e já estou na porta da casa de Valentina. Sou recebida por sua mãe que está eufórica!
- Oi Cacau, tudo bem? Dá pra acreditar nisso? Minha filha sendo entrevistada para o Jornal O Globo! Incrível isso! – diz ela com os olhinhos brilhando de orgulho e felicidade ao mesmo tempo.
- Pois é, demais essa parada, né tia? Aliás cadê a nossa estrela?
- Tá no quarto terminando de se maquiar.

Corro para o quarto de Valentina e lá está ela, linda, imaculada, com os cabelos longos, cacheados, soltos, cor de mel e um ar de superioridade que encanta e dá medo ao mesmo tempo. Sentada em sua cadeira de rodas cor de rosa choque com um pouco de glitter porque já que é pra chamar a atenção então que seja com uma cadeira de rodas cor de rosa choque com um pouco de glitter, né mesmo? Me apaixonei, de novo, como quando me apaixonei em 3 de maio de 2002, quando a vi pela primeira vez. Que mulher!

Fui me aproximando de mansinho, dei 1 passinho, depois outro, e depois outro, chegando de ladinho, até que... BLIM, me sentei ao seu lado na cama.
- E aí gata, você vem sempre aqui? – pergunto.
- É, eu moro aqui, e você?
- Moro não, mas se me chamar eu venho!
- Idiota!
- Besta!
- E aí, animada com a entrevista?
- Muito! Demais! Nem tô acreditando numa coisa dessas?! A semana começou de um jeito tão indigesto e agora isso!
- Maravilhoso, né?
- É! Agora você viu que a ordinária que me ofendeu deixou um comentário na página do Extra?
- Não, não vi! Mentira?! – me assusto.
- Pois é, respondeu ontem à noite. Como o vídeo teve muitos acessos, muitos foram até a página do restaurante e detonaram o estabelecimento. Não por menos. E a classificação deles caiu muito.
- Pois muito bem feito.
- Não é? Daí a cretina foi até lá, usando o próprio perfil dela e detonou meu vídeo e a postagem. A sim, o nome da safada é Bárbara, Bárbara Mori, caso lhe interesse.
- Sim, me interessa muito! Vou stalkear essa quenga.
- Então, segundo ela tudo não passou de um “grande equivoco”, que em momento algum eu fui hostilizada e que a confusão toda só aconteceu porque eu me recusei a usar o banheiro destinado aos clientes e que eu queria ir no banheiro dos funcionários e que a minha irmã, olha só que coisa, A MINHA IRMÃ foi quem causou toda a confusão ao tentar agredi-la! QUAL FOI?
- Sério que ela usou desse argumento fubá para se defender?
- Sim, usou. E tava se sentindo “A” Rainha da Cocada Preta”, por sorte muitos não engoliram sua desculpa e a vaca acabou sendo detonada mas não largou o argumento de que tudo não passou de um equivoco da nossa parte e que o vídeo é caluniador. Mereço, né?
- Bárbaro Mori, faço questão de fritar essa mulher nas redes sociais. Ontem a noite, antes de dormir, eu entrei no face do tal restaurante e vi uma galera falando muito mal deles nos comentários. Mas a maioria está se manifestando no do Extra. Acho isso legal, sério, eles estão comprando a sua guerra mas esses comentários também deveriam ser feitos lá na página dos caras e não só no do Extra. Aliás que horas eles chegam?
- Às 7h15. Pelo menos foi o que me falaram ontem ao telefone.

E dito e feito, às 7h15 eles já estavam tocando a campainha da casa de Tina. Pontuais como o povo britânico, nem parecem brasileiros, eu hein?

A equipe logo se espalha pela sala do apartamento. Colocam umas luzes na nossa cara, microfones sob nossas cabeças, nos fazem umas perguntas rápidas antes de começarem a entrevista oficial, olho rapidamente para Valentina e vejo que ela está um pouco nervosa. Seguro em sua mãe e falo baixinho “Hey, vai dar tudo certo, confia”. Ela me sorri de volta, respira fundo e começa as perguntas que lhe são feitas pela repórter:
- Então Valentina, o que te levou a gravar o vídeo?
- Bom, já faz um tempo que eu vinha pensando em criar um canal no YouTube e compartilhar um pouco do meu dia-a-dia mas não o com o proposito de me tornar uma celebridade e nem nada, o foco seria pra mostrar como é o cotidiano de um cadeirante e como fazer certas coisas são tão simples para os que andam mas tão complexas para os cadeirantes mas daí aconteceu essa terrível situação e foi assim que eu dei início a esse meu projeto. Não foi bem como eu planejei começar o meu canal mas foi assim que aconteceu.

Valentina explicou, com mais detalhes, toda a situação e então, quando chegou na parte do vídeo, ela apontou pra mim e agora eu era o foco da entrevista.

- Então Cacau, foi você quem filmou e editou o vídeo?
- Exatamente, a Tina me ligou contando o que aconteceu e, na hora, eu vim até aqui e a gente conversou bastante sobre a situação e depois eu peguei o meu celular e comecei a filmar o seu depoimento. Foi tudo muito natural e espontâneo e assim o vídeo surgiu. Eu o editei no PC da minha casa e depois o mandei pra ela e ela postou no YouTube e o resto da história vocês já sabem.

E 3 horas e alguns quebrados depois nós concluímos a entrevista. Bem a tempo de eu ir para a segunda etapa do dia – a entrevista de emprego na Barra!


11h37 am
Me despeço de todos e saio correndo da casa dos Matarazzo.

- Me desejem sorte! – peço.
- BOA SORTE! – gritam todos.

E lá vou eu, com um sorriso estampado na cara. Hoje o dia começou bem e vai correr bem e essa vaga vai ser minha, eu tô sentindo!

11h52 am e eu já estava comprando meu bilhete no metrô.

Meio-Dia e eu já estava dentro do vagão.

12h30 pm e eu já estava na Barra da Tijuca. Olha, confessar uma coisa pra vocês, nosso querido ex-prefeito Dudu fudeu com o orçamento da cidade e deixou a gente na merda! Mas de todos os gastos feitos, o metrô pra Barra foi, sem dúvidas, o melhor gasto EVER!!!!! Sério gente, chegar na Barra em 30 minutos é um presente! Já trabalhei por lá em outra época, uma mais hard core onde se levava cerca de 4 FUCKING horas pra chegar no Downtown. Isso na sorte! E agora 30 minutos, 30 lindos e wonderfuls minutos. Ô Glória! Na verdade eu cheguei cedo até demais, a entrevista é só às 14h, dá tempo de comer alguma coisa, descansar, retocar a maquiagem e aí sim ir até o escritório da tal GRID BR. E é o que faço, vou até a praça de alimentação do Downtown, paro no Giraffas, peço um PF e faço hora.

1h30 pm
Hora de ir.

1h40
Chego na parte empresarial do shopping e vou até a sala 303 do bloco 16. Vejo o nome da empresa numa placa colada na porta, respiro bem fundo e toco a campainha e quem me atende é uma jovem branca, magra e de cabelos escuros até a cintura.

- Oi, pois não? – ela pergunta.
- Oi, meu nome é Camila, Cacau, e eu vi para uma entrevista com o Lipe.
- Aaah sim, entra.
- Obrigada.

E entro, e fico aguardando ser chamada na sala de espera que tem a parede toda pintada de cinza claro e com alguns detalhes em laranja, as mesmas cores usadas no logo da empresa (sim, designers reparam nessas coisas). Adorei. Sento no sofá, também cinza, e tento me manter o mais calma e relax possível. Tento me distrair e tiro da bolsa meu celular e acesso o insta. Vejo quem postou foto, dou um coraçãozinho aqui, outro ali e eis que me deparo com uma selfie do Pedro ao lado do pai, e com a seguinte legenda: “Dando todo apoio a esse homem que é meu exemplo, o pilar da nossa família, meu coração, meu herói. Vamos seguir juntos nessa batalha. #pai #amor #família #força #foco #fé #vamosquevamos”

Que lindo! :´) Dou um coraçãozinho sim ou com certeza? Se bem que... cara, o Pedro tem sido um babaca comigo, vou dar um like nessa foto só porque é uma homenagem ao pai dele mas vai ser o último coraçãozinho também porque... né...

E eis que tenho meus pensamentos interrompidos por Tomaz, meu ex-colega de trabalho que foi quem me indicou a essa vaga.

- Cacau?
- Tommy! Oi! – respondo animadíssima, me levantando do sofá e indo abraça-lo.
- E aí, como você está?
- Estou bem, e você?
- Estou ótimo! Fico muito feliz que o Lipe tenha te chamado para essa entrevista, sério. Espero que dê tudo certo, falei muito bem de você e estou na torcida!
- Eu sei, Tommy, e sou muito grata por essa oportunidade, de verdade. Tá gostando daqui?
- Nossa, adorando! Muito melhor que a RJ Produções, a galera aqui é show, uma vibe muito boa, sabe? E a demanda não é aquela loucura como era quando tínhamos de fazer uma caralhada de coisas para a Chega+ Hipermercados.
- HAHAHA, menos mal.
- Claro que há dias em que saímos daqui um pouco depois da hora mas nada muito forçado e exagerado. Vai por mim, você vai gostar de trabalhar aqui.

E eis que um homem chega e interrompe nossa conversa.

- Cacau? – pergunta ele.
- Sim?
- Oi, prazer, Lipe. Vamos para a entrevista?
- Aaah claro, prazer! Vamos sim.

Acompanho Lipe até a sua sala mas antes me viro para Tomaz e faço um sinal de joinha com o polegar. Ele corresponde o gesto com uma piscada de olho como quem diz “boa sorte”. É, vou precisar mesmo de toda a sorte do mundo pois não está sendo fácil conseguir um emprego nesse país de presidente Temer.

Entro na sala e me sento numa cadeira cor laranja. Lipe senta atrás de uma mesa e começamos a nossa conversa. Ele explica que Tomaz fez couro para que eu fosse chamada e que vendeu muito o meu peixe (Deus abençoe esse rapaz, sério). Lipe também me pediu para contar um pouco da minha experiência como designer e falei sobre como era a minha rotina na RJ Produções e o porque de eu ter sido demitida. No geral a conversa foi tranquila e bastante agradável. Acho que ele gostou de mim. Sinto isso.

- Gostei muito do seu currículo, Cacau, e de você também, de verdade – diz Lipe.

Viram só, eu falei que ele tinha gostado de mim!

- Aqui fazemos o possível para garantir um ambiente agradável a todos os nossos funcionários e também queremos que a nossa equipe esteja sempre unida – ele explica - Queremos que eles se vejam não só como colegas de trabalho mas como uma família.
- Aaah legal isso – é, acho legal mesmo.
- Agora uma pergunta, qual seria a sua pretensão salarial?

Puta que pariu, a pretensão salarial, a pergunta de 1 milhão de dólares e o valor que nenhum chefe está disposto a pagar. Sério, falo por experiência própria, quando, numa entrevista, eles falam que gostaram de você mas, em seguida, perguntam sua pretensão salarial é porque eles NÃO estão disposto ou NÃO PODEM pagar pelo valor que você vai cobrar. Aí começa o drama e você só tem 2 opções: ou fala a verdade, que quer cobrar o valor X, ou mente e fala que aceita trabalhar pelo valor Y. X já está bem abaixo do mercado mas Y é praticamente o salário de um estagiário. Z deveria ser o que um designer formado e com experiência deveria ganhar mas até hoje eu nunca fui chamada para uma empresa disposta a pagar um salário Z, a coisa sempre se manteve entre o X e o Y ou abaixo de Y (coloca um V nisso aí). Em outras palavras, ou eu trabalhava muito ganhando pouco ou trabalhava muito ganhando o miserável. Essa é a triste realidade da minha profissão... bom do meu país! Por isso eu admito, sempre fico com o cu na mão quando perguntam a minha pretensão salarial?

Respiro fundo e mando na lata:
- R$ 1.900 – o valor X.
- Aaah entendo – ele não curtiu, esperava uma pretensão Y. Sinto isso.

Já era, a vaga não vai ser minha. Ele vai acabar contratando alguém que aceite ganhar Y, mesmo tendo gostado de mim e do meu currículo. Sou “cara” para os padrões dele. Fato. Isso me deixa com raiva e enojada ao mesmo tempo.

- Perfeito Cacau. Bom, eu ainda vou entrevistar outros candidatos...

Não falei? Vai me dispensar e contratar alguém por um salário Y.

- ...mas preciso que esse novo funcionário comece o quanto antes aqui na GRID, de preferencia nesta segunda, dia 20, então estarei confirmando a escolha do candidato até essa sexta. Caso fique com a vaga você teria disponibilidade para começar nessa segunda?
- Teria, claro!
- Perfeito! Então é isso.

Ele se levanta da cadeira e eu me levanto da minha. Nos cumprimentamos com um forte aperto de mão. Lipe me deseja uma boa tarde, retribuo com um belo sorriso e saio do escritório da agência GRID com o ar mais simpático do mundo mas era tudo fachada. Por dentro eu estava bufado de raiva! Mais do mesmo. Apenas mais uma entrevista na qual eu falo o melhor de mim (também não vou falar o pior, né?), explico que sou capaz o suficiente de ficar com a vaga (porque sou mesmo!) e que vou dar conta do serviço (porque vou mesmo) mas quando chega na parte do $$, eles sutilmente me dispensam pois “sou cara demais” para a empresa. Deus, até quando eles vão exigir absurdos de um profissional mas vão pagar o dobro do triplo da metade de um salário digno? Sério, esses chefões acham que dá pra uma pessoa pagar aluguel + condomínio + comprar comida + pagar contas + sobreviver 1 mês inteiro com apenas R$1.500. Pois eu tenho uma grande revelação a fazer: não dá, não! Ainda mais quando o seu funcionário mora no Rio de Janeiro, uma das cidades mais caras do mundo. Dia desses eu li que está mais caro morar num conjugado no Rio do que num loft em NY. Partiu New York então!

Corro até o metrô e me enfio no vagão vazio e gelado que parou na minha frente. Sento naquele banco frio, cruzo as pernas e os braços e fico pensando “até quando?” e “por que fui escolher essa profissão? Sério, não está me levando a nenhum lugar significativo”, e eu que pensei que ser designer seria o máximo, a transformação da minha vida... nada. Deveria ter feito medicina como a minha mãe queria, ou ser advogada... na verdade eu deveria ter nascido na europa! Aaah tô revolts com a vida hoje! ME ATUREM!

Chegando em casa eu me jogo no sofá de cara. Bosta, tô exausta! Acordada desde às 5h45, meu corpo pede um break... e Cake pede atenção!

- Vem aqui, filha! – falo a pegando com uma mão, virando meu corpo e a colocando em cima da minha barriga.

Olho para aqueles olhinhos escuros e brilhantes e eles me enchem de amor.

- Sabe Cake, se não é você eu já tinha desistindo de muita coisa nessa minha vida. Sério, você me faz feliz de verdade.

Ela retribui a minha declaração com uma lambida no nariz. Aaah o amor canino... <3 br="">
5h16 pm
Meu celular vibra e é uma notificação avisando que Valentina Matarazzo acaba de me marcar numa matéria na página oficial do Jornal O Globo.

Clico na notificação e sou levada ao vídeo da nossa entrevista que já está no ar no site O Globo. CARALHOWWWWWWWWWWWWWWWW! QUE FODA! Fico orgulhosa e emocionada ao mesmo tempo. Está acontecendo! Está mesmo acontecendo! Que bom, a Tina merecia isso.

Logo percebo que não li um whatsapp que ela me enviou enquanto eu estava na frustrante entrevista de emprego. VALENTINA: A ENTREVISTA TBM PASSOU NA TV! ACABARAM DE MOSTRAR NO RJTV 1ª Edição! AAAAAAAAAAAAAH!!!!!

O quê? Como é? Passaram na TV? Eu pensei que ia só para o site! COMO ASSIM???

EU: Sério que passaram na TV?
VALENTINA: Sério! Você saiu daqui as pressas e nem deu tempo de te falar, depois eles explicaram que ia ser veiculada na TV também pois a matéria estava tendo muita repercussão!
EU: Eu não tô acreditando! (emoji assustado)
VALENTINA: Pois pode acreditar! Você e eu aparecemos na TV! Depois busca no site do GSHOW, deve ter alguma coisa por lá!
EU: Eu vou buscar! Pode deixar ;)
VALENTINA: E como foi a entrevista?

Respiro fundo antes de responde-la.

EU: Aaah o de sempre, + do mesmo, muita exigência e pouco $$. O cara até gostou de mim mas quando falei da pretensão salarial ele gongou na hora. Fico puta com isso, perder meu tempo com algo que não vai ter retorno. Fora a desvalorização com o meu trabalho, com minha profissão. Sério Tina, tô muito frustrada com essa situação.
VALENTINA: Eu sinto muito Cacau, de verdade, mas olha, vc é uma ótima profissional e eu acredito que em breve vc vai conseguir um emprego a altura do seu talento. Confia e não desanima, por favor! Olha o que aconteceu comigo, vc acreditou em mim, me deu forças e agora tenho um vídeo com mais de 300 mil visualizações e uma matéria na TV Globo e gente de diversa parte do país querendo saber da minha história e me dando total apoio. Nunca acreditei que uma coisa dessas fosse acontecer comigo mas vc sim, então acredite tbm no seu potencial. Vc vai dar a volta por cima e será em breve.
EU: Obrigada Tina, de verdade :)
<3 br="">
<3 br="">Lhe dou uma resposta otimista só por uma questão de educação mas, no fundo, não estou nem um pouco confiante com mais nada. E eis que ela me surpreende com a seguinte frase:
VALENTINA: Hey, vai dar tudo certo, confia ;)

Sim, a mesma que usei hoje de manhã para acalmá-la minutos antes de começarmos a entrevista. Que coisa, parece que ela pressentiu o meu desanimo... Aí Tina, assim você me quebra!

OLHO PARA A CÂMERA E FALO: Gente eu juro, JURO que estou tentando me manter forte e confiante mas tá foda! Se não conseguir um emprego nas próximas semanas então eu terei de ser obrigada a fazer a última coisa que gostaria de fazer na vida- entregar o apartamento ao proprietário e voltar a morar com a minha tia. Sim, sair do meu refugio, afinal com que dinheiro eu vou pagar o aluguel disso aqui e o resto das contas? Tá foda, viu, e a cada dia que passa, a cada entrevista mal sucedida eu vou me preocupando ainda mais. Velho, o bagulho é doido!

Vou para o banheiro e tomo um banho quente e confortante, depois disso eu saio do box, visto meu hobby rosa e macio, vou direto para o meu quarto e me jogo na cama. Cake vem logo em seguida pedindo colo. A pego de novo e a coloco do meu lado na cama. Fico olhando para o teto e pensando em tudo o que vem acontecendo comigo desde que voltei de férias. Era para 2017 ser um ano de grandes conquistas e altas realizações, não vejo nem sombra desses planos acontecendo. Primeiro fui demitida, depois o Pedro foi embora, daí reencontro meu amigo de infância e descubro que ele sempre teve uma queda pro mim e que quer enfiar o chouriçozinho na minha cacauzinha, daí o Pedro deixa de falar comigo, daí faço entrevistas atrás de entrevistas mas nunca sou efetivada para nenhuma deles, meu dinheiro já está acabando, engordei uns 4 quilos de janeiro até agora, meu cartão de crédito já foi bloqueado, preciso comprar sabão em pó... caralho, posso avançar para o capítulo da minha vida no qual eu sou rica e vivo feliz numa casa de 3 andares no Guarujá?


Rio de Janeiro, bairro das Laranjeiras
17 de março de 2017
4h03 pm

Caixa de Entrada do meu e-mail
De: RH@gridbr.com
Para: oi@cacaudossantos.com

[Re] Assunto: Vaga design

Oi Cacau, tudo bem?
Conforme conversamos ontem eu gostei muito de você e do seu portfólio mas infelizmente a vaga foi preenchida por outro candidato. Mas vamos manter seu currículo arquivado no nosso banco de dados e aparecendo uma nova oportunidade, com certeza, vamos lhe chamar.

Sucesso e até a próxima!

Att.:
Lipe Munhoz
Supervisor de Criação

“A vaga foi preenchida por outro candidato.” Hãm, tecla SAP: “encontramos um trouxa que topou fazer o mesmo que você faz só que por um preço muito inferior e nem vai ser de carteira assinada, sabe...”, eu falei, não falei. Tão clássico. Eles acham que designer limpa a bunda com diploma, só pode.

Respiro fundo, pois respirar fundo é a melhor solução nesse momento, e deleto o e-mail. Melhor assim, NEXT!... A quem eu estou enganando? Eu tô muito puta mesmo! Como é que pode, cara? Eu sou um ser humano! Eu sou uma profissional! Eu exijo respeito! Eu vivo, eu tenho sentimentos, eu tenho meus desejos, minhas necessidades e uma fome de trabalhar tão grande quanto a de qualquer concursado!... Olha eu parafraseando a Valentina... Valentina, deixa eu me focar nela que ganho mais do que ficar ruminando essa situação, viu.


5:06 pm
Facebook.com/JapaLongRiverRestaurante
<3 br=""><3 br="">
COMUNICADO OFICIAL

Prezados clientes,
na última terça-feira (14/3) começou a circular nas redes sociais um vídeo de uma cadeirante que supostamente foi destratada no nosso estabelecimento. Segundo a própria ela foi impossibilitada de usar o banheiro destinado a todos os clientes e exigia utilizar o banheiro de funcionários. Lhe explicamos que isso não seria possível e então a jovem, que estava acompanha de sua irmã, começou a questionar nosso atendimento. Já sua irmã agrediu dois de nossos funcionários verbalmente (e quase fisicamente) e não satisfeitas ambas foram embora e nem pagaram a conta do pedido que já havia sido realizado.

Essa foi uma das situações mais chatas e deselegantes que tivemos o desprazer de presenciar mas, como se não bastasse, essas duas individuas ainda gravaram um vídeo difamando o nosso restaurante e o postaram nas redes sociais e este acabou tendo uma repercussão maior do que o esperado, ganhando até destaque no RJTV da última quinta-feira (16/3).

Nós do Japa Long River estamos não só ofendidos com tudo isso o quê está acontecendo como revoltados com tamanha discórdia e mentira inventada a nosso respeito e queremos deixar claro que não vamos deixar essa situação passar impune. Vamos não só pedir que o vídeo em questão seja retirado do ar como também vamos mover uma ação contra essas duas pessoas por difamação.

Mas acima de tudo queremos deixar claro que nosso restaurante preza pelo bem-estar de todos os seus clientes e jamais, em hipótese alguma, iriamos proibir o uso de nossos banheiros a ninguém. Imagina!

Um forte a abraço a todos e vamos seguir em frente com muita paz, muito amor e muita luz.

Att.:
Bárbaro Mori
Gerente do Japa Long River
<3 br="">
126 reações comentários relevantes
<3 br="">
Rafaella de Mello

Pelo o que entendi elas não questionaram o uso do banheiro público mas sim o fato de que você ofendeu a garota cadeirante só porque ela foi falar que o tal banheiro era pequeno e apertado demais para ela entrar então sua justificativa tá meio confusa??!!!

Joe Pinheiro
MIGAH PARA QUE TÁ FEIO!

Alexandro Moura
Migah vem cá, cê viu o vídeo direitinho? Até o fim? Viu mesmo? Pq se tivesse visto não estar falando esse monte de asneira! Apaga isso aí enquanto dá tempo!

Cléo Maia
Mulherzinha cara de pau! Eu estava lá na hora em que essa confusão aconteceu! Ela ofendeu a pobre da cadeirante, disse que aquele lugar não era para pessoas como ela e agora quer posar de vítima e ainda tem a ousadia de dizer que vai processar as duas quando quem deveria estar processando quem são elas! PROCESSANDO VOCÊ POR DANOS MORAIS! Faço questão que todos saibam a verdade, esse restaurante é um chiqueiro e essa tal de Bárbara Mori é uma escrota safada sem caráter! Vaca, nós vamos expor você! #SomosTodosValentina

Belmiro Fontes
Eu tbm estava lá nessa dia e vi tudo. O que a Cléo Maia falou é verdade, essa tal de Bárbara foi quem ofendeu a menina da cadeira de rodas e sua irmã só foi defende-la. Sem noção nenhuma esse texto #SomosTodosValentina

Kenya Gustavo

#SomosTodosValentina

Maristela Almeida
#SomosTodosValentina

Mariza Batista
#SomosTodosValentina

Alice dos Santos
#SomosTodosValentina

Alisson Andrade
#SomosTodosValentina

Cleyton Silva
#SomosTodosValentina

Fabricia Xavier
#SomosTodosValentina

Johnny Bandeira
#SomosTodosValentina

Mallu Diaz
#SomosTodosValentina


Mallu Diaz convidou você para o Evento #SOMOSTODOSVALENTINA Criado por Cléo Maia
Terça, 21 de março às 17h
Local: em frente ao Japa Long River Restaurante – Rio Comprido
Detalhes: Se você ficou revoltado com a injuria sofrida por Valentina Matarazzo então junte-se a nós nesse ato contra o Japa Long River Restaurante. E nas redes sociais não deixe de usar e compartilhar a #SomosTodosValentina.
Fabricia Xavier, Johnny Bandeira, Mallu Diaz, Antônio Carlos Ribeiro e outros 3 amigos confirmaram presença.


Cara eu não tô acreditando, NÃO TÔ ACREDITANDO MESMO! A tal de Bárbara escreveu um texto defesa nada a ver e só fez aumentar ainda mais a confusão dessa situação! E tem muita gente que se revoltou ainda mais com isso e eles acabaram criando não só uma hashtag (#SomosTodosValentina) como também um ato em defesa da minha amiga... MÁ OI?! E mô galera já confirmou, inclusivo o Chouri! Tô abismada com isso! Claro, confirmo minha presença na hora e, logo em seguida, mando mensagem pra Valentina:

Música de cena


EU: Moça, é isso mesmo? #SomosTodosValentina
VALENTINA: Sim, é isso mesmo, e eu estou com lágrimas nos olhos aqui. Cacau, você não tá entendendo, tem gente de várias partes do país entrando em contato comigo, mandando e-mail, inbox, dizendo que sentem pelo o que houve e que estão do meu lado, que me apoiam, me mandando as mensagens mais lindas de amor e de esperança, fora os cadeirantes que se identificaram com o meu caso e estão tomando coragem e fazendo denuncias, tudo graças ao meu vídeo! Estão dizendo que eu sou uma influencer, como assim? Isso tá muito surreal! Fora que outras emissoras entraram em contato e também querem me entrevistar! A Record me quer no programa do Gugu na próxima quarta! Vão pagar passagem e tudo pra mim e para a minha mãe!
EU: WHAAAAAAT?! PROGRAMA DO GUGU?!
VALENTINA: Sim! Programa do Gugu!

Valha me Deus! Mas ela tá feliz e é isso o que importa.

VALENTINA: E o Jornal O Dia e Estadão ligaram pra cá e fizeram uma rápida entrevista comigo por telefone mesmo, me pediram umas fotos minhas e da Virginia e pediram também a autorização para postar o vídeo do DESABAFO e também perguntaram se não estou disposta a fazer outros vídeos exclusivos falando a respeito de outras situações constrangedoras as quais nós cadeirantes passamos. Cara que louco, eles querem me pagar para falar a respeito de algo que eu estava disposta a fazer de graça! Mas OK, foco, como você mesma diz, uma coisa por vez. Primeiro quero ir nessa manifestação que organizaram, a do dia 21.
EU: Sério que vc vai?
VALENTINA: Mas é claro que vou! Até prece que eu não iria! E que a senhorita lá tbm! Vc leu o comunicado idiota escrito pela tal de Bárbara na página do Japa Long River? Que mulherzinha sem noção. Ela pediu por isso, cara!
EU: Isso é verdade!
VALENTINA: A Cléo, criadora do evento, me disse que estava presente na hora do bafão. Sinceramente eu não me lembro de tê-la visto mas tbm não me lembro da cara de ninguém daquele dia, fiquei muito alterada com tudo. Mas enfim, a Cléo me procurou, conversou comigo e me perguntou se eu dava a autorização para criar essa manifestação. Olha eu não esperava por isso mas aceitei e agora... vamos fazer barulho!
EU: #SomosTodosValentina
VALENTINA: :)

Quem diria que aquela garota da cadeira de rodas cor de rosa choque com um pouco de glitter ia chamar tanto a atenção das pessoas. Conseguir uma legião de fãs e admiradores dispostos a comprar essa briga por ela. De repente meus problemas parecem tão pequenos diante de tudo isso o que está acontecendo. Valentina está certa, eu não posso desanimar. Eu tenho de fazer como ela e confiar na pessoa mais capaz e importante que existe na minha vida – eu mesma. Eu vou conseguir dar a volta por cima. Me aguardem!... E o Pedro que se foda!... Pedro, por que eu fui pensar nele agora?

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Cacau dos Santos

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Projeto com conteúdo 100% autoral, baseados em situações que ocorreram em minha vida. Alguns personagens são fictícios, outros tiveram seus nomes e características físicas alterados para preservar a identidade real dos envolvidos.

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