Licor de Cacau

Licor de Cacau - 1ª Temporada - #16 - É pra isso que servem os amigos

agosto 23, 2017Cacau dos Santos

Imagem: Unsplash

(1) Sobre fundo preto surgem, em letras brancas, sucessivamente, as seguintes frases:

AVISO: A história a seguir contém linguagem atípica, palavrões, termos em inglês, muitos pontos de exclamação e referências da cultura pop e, devido ao seu conteúdo, este pode causar crises de risos e nostalgia aos leitores. Todos os personagens e eventos - mesmo aqueles baseados em pessoas reais - são fictícios. Se por ventura você se identificar com algo que foi escrito ou com alguém citado, isso significa que a sua loucura se parece um pouco com a minha e aproveite esse momento de coincidência para me seguir no instagram: @thecacaudossantos

(2) As frases desaparecem em fade e surge título da série seguida da primeira cena

LICOR DE CACAU
EPISÓDIO #16 – É pra isso que servem os amigos
Escrito por: Cacau dos Santos

22 de junho de 2016
Bar Na Pressão, Downtown Shopping



8h16pm
Fim do expediente. Eu, Tommy, Greg e Alana vamos até o Na Pressão para um típico Happy Hour e, com isso, colocamos a fofoca em dia. O primeiro assunto da pauta só poderia ser ela, claro: Regina Orofino.

- Gente, sério, qual é a da Regina, hein? Por quê que ela age dessa maneira comigo?É de uma estupidez gratuita e desnecessária! Eu realmente não entendo... - questiono antes de dar um gole na minha Heineken.
- Aaaah sei lá, cara, pra mim ela é lésbica enrustida - solta Gregório também dando um gole em sua cerveja.
- Lésbica enrustida! - levo um susto, soltando a garrafa bem forte na mesa.
- É, eu acho. Veja bem, tem uma mina amiga dela que ela queria muito que ficasse com a vaga de designer, mas o Lipe escolheu você no lugar dessa mina e foi daí que a Regina se emputeceu. Ao meu ver essas duas são mais que amigas, pra mim elas botam os nuggets de peixe pra nadar.

- E QUAL O PROBLEMA DE BOTAR O NUGGET DE PEIXE PRA NADAR COM OUTRO NUGGET DE PEIXE?! Eu faço isso de vez em sempre! - solta Alana.
- Não tenho nada contra, pelo contrário, acho isso lindo! - se defende Gregório - O que eu quis dizer é que a Regina ficou puta porque a Cacau tomou a vaga que seria da mulher dela!
- AAAAH tá, mas a Regina sempre foi cuzona mesmo, isso não tem nada a ver com a paquera dela! - dispara Alana.
- É, mas comigo ela é o dobro de cuzona! - disparo - Ela me detesta e isso é nítido!
- Ignora, Cacau, já falei. Ignora que é melhor - diz Tomaz.
- Olha eu tento ignorar mas tem coisas que não dá pra relevar. Ela pede pra tomar uns coices! Fora que não tem postura profissional nenhuma. É arrogante e metida a besta. Não sei como o Lipe ainda não a demitiu.
- Nisso eu tenho de concordar, a Regina se acha A Dona da GRID, eu no lugar do Lipe já a teria demitido faz tempo mas ele sempre passa a mão na cabeça dela - afirma Tomaz.
- Eu acho que eles tem um caso - solta Alana - Pra mim ela deu um belo chá de buceta nele e tem isso a seu favor para continuar lá dentro.
- Não, ela curte dar e receber Lalá, te falando... - afirma Gregório.
- Lésbica ou não lésbica eu não suporto essa demonia! Por mim ela caia fora, ou trabalhava de casa, assim não enchia o nosso saco! - afirmo dando mais um gole na minha Heineken.
- Que tal a gente dar de presente pra Regina um daqueles livros de colorir que desestressa? - sugere Tommy.
- IIIIIIH NUM DÁ CERTÚ! NUM DÁ CERTÚ! - afirma Alana elevando o tom de voz, de novo - Comprei um desses livrinho assim que lançaram, crente que ia me ajudar a desestressar e, adivinhem? 3 horas depois eu ainda tava colorindo a porra da asa da borboleta e meu estresse só aumentou depois disso! Se dermos um desses livros
para a Regina, periga ela fazer a gente engolir ou enfiar no... cês me entenderam.

E temos uma crise de riso com essa observação feita por Alana. Aaaah cara, nada como um bom papo regado a cerveja e zoeira entre a galera do escritório. E o papo tá tão bom que nem vejo a hora passar e só me dou conta das coisas quando já são 11 horas.

- Droga, o metrô! Vou acabar perdendo! - resmungo enquanto vejo a hora na tela do celular.
- Relaxa, a gente racha um Uber, se você quiser - diz Gregório já sacando seu iPhone 7 do bolso.

OLHO PARA A CÂMERA E FALO:
- Gregório mora em Botafogo, bem perto do meu bairro, assim fica mais fácil de pegar carona. É tão bom quando a gente tem amigos-vizinhos, né mesmo? Nessa hora fica de boa dividir a tarifa do Uber. Aí aí...

Aceito a proposta e espero ele chamar um carro e este não demora nem 5 minutos para nos buscar. Nos despedimos de Tommy e Alana e vamos correndo até a saída principal do DownTown Shopping onde um Honda Civic de cor vermelha nos aguarda.

- Carrão... - reparo um pouco abasbaquada, admito - ... pediu Uber Black?
- É, foi, gosto mais. Por que, algum problema?

O problema é que a corrida sai um pouco mais cara, né bonito? - penso

- Não, não, problema nenhuma. Só quero chegar logo em casa por causa da Cake. Tadinha, tá sozinha o dia inteiro.

Abro a porta do banco de trás do carro e entro, Gregório vem logo atrás e se senta ao meu lado. Pra mim ele ia sentar no banco da frente, ao lado do motorista, mas tá OK.

- Amigo, primeiro vamos para Laranjeiras e depois Botafogo - explica ele ao motorista.
- Não Gregório, ele pode passar primeiro na sua casa e depois pode me deixar em Laranjeiras. É melhor.
- Não, que isso, vamos para a sua casa primeiro. Você não disse que está preocupada com a Cake? Então, filhos em primeiro lugar.

Lhe lanço um sorriso meigo e agradecido. Esse rapaz é gente fina, não é mesmo?!

No caminho vamos conversando mais um pouco sobre o trabalho:
- Você tá gostando da GRID? - pergunta.
- Tô sim, a vibe é boa, a demanda é puxada mas nada que me desespere, a galera é legal, o único porém é mesmo a Regina. Não a suporto, Gregório, sério. Tento ignorá-la mas tá difícil! Regina pede para que eu a despreze! Pede não, implora! É uma cretina! Acha que estou exagerando?
- Um pouco, mas já falei, esquece ela, Cacau. A Regina não vale tudo isso. No fundo ela tem inveja de você.
- Inveja de mim?! - Me assusto.
- É, inveja de você. Você é uma garota legal, divertida, com uma boa vibe, geral gosta de você. Enfim, você é tudo aquilo o que ela gostaria de ser mas não consegue. Fora que Regina sempre foi maldosa, e sabe o que a gente faz com
pessoas maldosas? A gente ignora!

Paro e penso por alguns segundos, Gregório tem razão.
- ... É, você tá certo, o melhor é ignorar essa vaca.

E com o trânsito bom, em menos de 30 minutos chegamos em Laranjeiras. Fico tão feliz por estar, finalmente, em casa... o motorista do Uber para bem na entrada do meu prédio. Tiro o cinto de segurança, me inclino e dou dois beijinhos de despedida nas bochechas gordinhas e rosadas de Gregório.

- Obrigada por rachar essa corrida comigo e obrigada pelos conselhos, Greg. Boa noite, bom descanso e até amanhã.
- Tchau Cacau, boa noite e bom descanso e beijo na Cake! Até amanhã.
- Aaah sim, depois me passa o valor total da corrida, por WhatsApp.
- Passo sim, pode deixar.


Greg é um cara legal. Ele é meu melhor amigo-de-trabalho, na verdade já ouso dizer que ele é meu amigo mesmo. Gente boa esse menino.



No dia seguinte...
23 de junho de 2017
Agência GRID, 12h48 pm

- Cadê o modelo de flyer do Ice in Love?... Tava aqui nessa pasta... Ô Greg!
- Eu?
- Você sabe onde está o modelo do flyer do Ice in Love?
- O flyer desse mês?
- Esse mesmo.
- Tá no Drive, na pasta CLIENTES-ICE_IN_LOVE-2017-IMPRESSOS-FLYERS-JUNHO.
- ...Drive... clientes... 2017... AAAAH, achei! Valeu Greg!
- 😉
- Aliás quanto que deu a corrida de ontem?
- Deu nada, não.
- Como "nada, não", diz aí quanto que foi tudo para eu te pagar.
- Cacau relaxa, não esquenta a cabeça com isso.
- Mas Greg...
- Cacau, tá boa. Mesmo.

OLHO PARA A CÂMERA E FALO:
- Puxa, ele não vai me deixar pagar pela corrida de ontem. Gente boa esse menino. 

Não resito e faço um convite:
- Greg...
- Hum?
- Vai almoçar aonde?
- Ainda não sei, por que? Quer me sugerir um lugar?
- Bora no Montana Grill!
- Bora!


1h10 pm
Montana Grill do DownTown Shopping.

- Eu amo a costela daqui! - digo atacando a que está no meu prato.
- Cara, essa costela não é nada comparada a costela que meu primo faz. Ele tá com um food truck de churrasco gourmet que é de comer rezando. Nesse sábado ele vai participar da Feira Independente de Qualquer Coisa ali na Seans Peña. Tá afim de ir?
- Esse sábado agora?
- É, bora, vai ser muito legal! A Feira rola o dia inteiro.
- Esse sábado o Chouri vai se apresentar com a banda no Audio Rebel... 
- O show vai ser que horas?
- Lá pelas 22h.
- Aaaah dá tempo, a Feira vai começar às 12h e vai terminar às 20h. Você sai bem antes, boralá! Vai por mim, esse churrasco vale a pena!
- Uuuuh, tentador... e me desafiou... Tá, eu vou! 
- Beleza, a primeira costela é por minha conta!

Gente boa, esse menino!


24 de junho 2017
Praça Sans Peña, Tijuca, 12h03 pm 

Chego na Feira acompanhada de Fabricia e Mallu e já ficamos encantadas com uma barraquinha que vende roupas para pets, mas não é qualquer tipo de roupa para animais, a garota responsável pela marca costura roupas descoladas com slogans de marcas de moda famosas. Fico encantada com um vestido floral "Adidas" e me seguro para não comprar um para a Cake.
- OLHEM IÇUUUUUUUUU! - berro enquanto seguro a peça e a mostro para as meninas.
- Cacau se controla! Olha a fatura do Cartão de Crédito, amiga! - brinca Fabricia.
- Aí gente, não posso vir nesses lugares que quero levar tudo!

Mais na frente tem uma barraquinha com alfomadas personalizadas e mais uma vez me seguro para não comprar uma linda, com paetês prateados.

- É muito escalafabetico mas super combina com o meu sofá!
- Cacau querida, calma! CALMA E FORÇA NA PERUCA! - brinca Mallu tomando a almofada da minha mão.
- É, tem razão, preciso me controlar.

E mais na frente nos deparamos com uma barraquinha de imãs de geladeiras descolados e daí eu não aguento e compro um com a frase CALMA PORRA! que estava sendo vendido por R$7. FOTO

- Gente desculpa mas isso eu tive de comprar, super me representa!
- Tá bom, o imã de geladeira é aceitável mas agora nós vamos passar reto e sem olhar para os lados porque senão nunca vamos chegar nesse food truck de churras gourmet! - reclama Fabricia.
- OK, OK, já parei de comprar. Vamos logo para a area de alimentação e sem mais distrações... GENTE, OLHA ALI UMA BARRAQUINHA DE SABONETES CASEIROS!
- CACAU!! - e as duas gritam o meu  nome.
- Quê que eu fiz?!
- Chega Cacau, vamos comer!

E Fabricia me puxa pelo braço até que chegamos na area de alimentação.

- Qual o nome do Food Truck do primo do seu amigo, mesmo? - pergunta ela.
- É Churras do Paizão! - digo.
- Churras do Paizão... Churras do Paizão... Churras do Paizão... Aaah, achei! Ali! Churras do Paizão! Vamos!

E quando nos aproximamos, vejo Gregório sentando em um banquinho, tomando uma Heinekein e batendo papo com outro cara. Ao me ver ele se levanta e vem em minha direção e me recebe com um abraço e um beijo na bochecha.
- Oi Cacau, que bom que você veio! - diz ele feliz da vida.
- Oi Greg, tudo bem? Essas aqui são minhas amigas, Fabricia e Mallu.
- Oi, prazer - e ele cumprimenta as duas também um um beijo na bochecha - tão gostando da feira?
- Muito! Bem bacana aqui! - diz Fabricia.
- É, a Cacau quem o diga, estamos segurado ela senão vai sair com a feira toda na bolsa! - entrega Mallu.
- Aaah qual foi, eu só comprei 1 imã de geladeira! - me defendo.
- Só comprou 1 imã porque a gente te impediu de comprar outras coisas! - entrega Fabricia.
- ... É, isso é verdade, confesso.
- HAHAHA, realmente essa feira é viciante, tem cada coisa irada! - diz Greg - Também me controlo para não sair por aí comprando um monte de coisas. Mas sentem-se, vou pedir um churras para vocês. Querem beber alguma coisa enquanto
isso?
- Eu vou de Guaravita, tem aí? - pede Fabricia.
- Tem sim! E você, Cacau?
- Vou de Guaravita também.
- Beleza, 2 Guaravitas. E você, Mallu?
- Vou ser chata e vou ali na barraquinha ao lado comprar suco orgânico, me desculpem mas estou paquerando aquele suco, confesso!
- Confesso que também tô pensando em passar lá e comprar um suco para experimentar mais tarde - diz Gregório - bom gente, com licença, vou lá pegar as coisas para vocês. 
- E eu vou comprar o meu suco! Já volto! - diz Mallu.

E enquanto Mallu vai para um lado e Greg para o outro, eu e Fabricia nos sentamos e começamos a conversar.

- Ô Cacau, não me leva a mal mas esse Gregório tá afim de você.
- É O QUE?! - exclamo.
- É amiga, ele te quer.
- Tá louca, mulher?! Ele é meu amigo! 
- É, seu amigo mas isso não significa que ele te veja assim. Vai por mim, se você der sopa ele entra com a colher!
- FABRICIA! 
- Quê?!
- Não gata, isso não vai rolar, o barro não vai acontecer*, eu tô de boas com o Chouri e vejo o Gregório SÓ como amigo mesmo.
- Falando em Chouri, como vão as coisas entre vocês?
- Estão bem, o Chouri é um ótimo namorado, sabe? Não tenho nada do que reclamar...

E, do nada, eu me lembro de Pedro, e fico um pouco triste. Fabricia nota, nota tanto que dá logo o nome aos bois:
- E o Pedro? Tem notícias?
- Pedro está bem, parece que está saindo com uma garota chamada Marjorie, passaram o Dia dos Namorados juntos e tudo. É isso, vida que segue.
- Você ainda gosta dele, não é?
- ... não sei... talvez sim, mas que diferença isso faz agora? Estamos separados, eu estou com outra pessoa, ele também. A vida andou pra frente.
- Vocês nunca mais se falaram?
- Não, nunca mais e, quer saber, melhor assim.

E eis que Greg volta com as bebidas.

- Aqui meninas, o churrasco já vai sair.
- Obrigada Greg - agradeço pegando meu copinho de Guaravita.
- Valeu, cara! - agradece Fabricia - Agora diz aí, quanto tempo você está na GRID.
- A 3 anos.
- Nossa, tudo isso?
- É, pra você vê. Entrei logo assim que o Lipe abriu a empresa.
- E você não pensa em sair de lá e tentar algo novo? - questiono.
- Por enquanto não, tô de boas. Gosto da galera, ganho o suficiente para pagar as contas então tá tudo bem.

Logo Mallu volta com seu suco orgânico e se junta nós.

- Gente esse suco tá uma delícia! Querem experimentar?
- Não amor, obrigada - dia Fabricia recusando.
- Não, valeu. - recuso também.
- Não, obrigado, tô de boas com a minha cerveja. - diz Greg também recusando.
- Que bom, sobra mais pra mim! HAHAHA... Aaah Cacau, do lado da bike de sucos há uma barraquinha de roupas que achei a sua cara.
- Minha cara?
- É, são roupas num estilo grunge, underground, só que trendy fashion!
- Grunge underground trendy fashion?! Essa eu quero ver...

E não resisto e vou até lá dar uma olhada, assim sem compromisso, e o que posso dizer? ADOREI cada peça! Tanto que, de novo, não resisto e compro uma saia de couro vermelha e uma camiseta branca com estampa do filme Pulp Fiction. Vou usar esse look mais tarde no show do Chouri.


7h30 pm
- Gente eu preciso ir, vou pra casa me arrumar e depois vou correndo para o Audio Rebel senão perco a apresentação do Chouri. Querem ir comigo?
- Valeu baby, mas eu e a Mallu vamos deixar para a próxima. Amanhã vamos almoçar na casa da mãe dela e teremos de acordar mega cedo para ajudar com tudo - explica Fabricia.
- Beleza, e você Gregório, quer ir? - pergunto.
- Eu até iria mas vou ter de ajudar meu primo a fechar a "lojinha" e confesso que estou um pouco cansado. Fica pra próxima também.
- Tudo bem, vou lá então pois não quero me atrasar. Beijo meus amores!

E com isso pego o 422 e vou direto para casa, chegando lá corro para o banheiro, tomo um banho e logo em seguida me arrumo, visto a saia de couro vermelha e a camiseta do Pulp Fiction, calço minha bota de cano curto, boto meu black power pra jogo e peço um Uber. Enquanto aguardo o carro chegar, recebo um WhatsApp de Chouri:

ANTÔNIO/CHOURI:  Gata, tá aonde?
EU: Saindo de casa agora, juro!

Tiro uma selfie na frente do espelho e mando para ele. Não demora muito e Chouri me envia a seguinte pergunta:
ANTÔNIO/CHOURI: Vai sair assim??????

... Como assim "assim"?

EU: Como assim "assim"? Não entendi?!
ANTÔNIO/CHOURI:  Assim, com essa saia.

... O quê tem a minha saia?!

EU: O q tem a minha saia??????!!!!!!
ANTÔNIO/CHOURI: Tá muito curta, você não acha?

Não, não acho!

EU: Não, não acho, pra mim ela está num  comprimento ótimo! E muito me admira vc questionando a minha roupa.

Ele fica "mudo". Aguardo por alguns minutos a sua resposta mas nada. Silêncio total. 

O Uber chega e desço até a portaria e assim que entro no carro sinto meu celular vibrar dentro da bolsa. O pego e vejo que é uma mensagem "vazia" de Chouri:
ANTÔNIO/CHOURI: Gata só vem, tá bom. Tô te esperando. 

Respondo meio "vazia" também:
EU: Tá, bjs.

Só me faltava essa, Chouri implicando com a minha roupa. Francamente...


9h43 pm
Audio Rebel, Botafogo

Chego no Audio Rebel que está bem cheio! Me supreendo, é sempre um público tão significativo mas hoje tá demais! Tiro o celular da bolsa e ligo para Chouri que já me atende no primeiro toque.
- Oi? - pergunta ele.
- Cheguei, tô aqui na porta.
- Beleza, entra aí, estamos em frente ao palco.
- Tá bem.
- Tá.

O papo entre nós tá meio estranho mas NÃO VOU me estressar por causa disso, sério. Guardo o celular, entro no local e vou até o palco e assim que apareço, Chouri já vem na minha direção com um sorriso meio torto.

- Oi - diz ele já me dando um beijo.
- Oi, tudo bem? - pergunto um pouco séria e sem graça.
- Tudo, e com você?
- Tudo bem também.
- Que bom.
- ...E aí, animado para a apresentação de hoje?
- É, tô animado...

Nossa, que papo mais aguado! Cruz credo! E eis que Felipe se aproxima de nós dois e me cumprimenta com uma euforia...:
- E aí Cacau!
- Oi Felipe, tudo bem?
- Tudo ótimo, como você tá gata hoje, hein!
- Aaah, obrigada! Hehehe! - e solto uma risada sem graça.
- Pena que você tá com o bunda-rachada do Antônio senão te chamada pra sair!
- AAAAAAAH! HAHAHAHAHAHA! - e solto outra risada mais sem graça ainda! Como é que ele me fala uma coisa dessas? Pior que eu sei que grande parte desse elogio se deve a minha roupa. Eu sei que tô bem gostosa vestida assim mas não queria ter chamado tanta a atenção, principalmente depois da "observação" do Chouri.

Esse, aliás, tá puto! Ele lança um olhar de ódio para Felipe mas esse nem se toca. E ainda sai rindo. MATAR ESSE MOLEQUE!

- Então amor, tem alguma coisa pra gente beber? - pergunto tentando dar uma amenizada no clima.
- Tem sim - ele responde ainda sério - Aninha! Ô Aninha, pega duas Budweisers pra mim, por favor!

E é então que vejo essa pequena figura feminina vindo em nossa direção com duas garrafas long neck de Budweiser na mão. Ana Júlia. Deve ter o quê? 1 metrô e 55. Uma baixinha com cara de envocada, meio estilo Avril Lavigne anos 2000. Cabelo comprido num tom chocolate, usando calça jeans e camiseta do Slipknot. Lápis preto no olho. Converse preto nos pés. Tô com medo, ela parece que vai encher minha cara de supapos!

- Aqui Antônio - diz ela entregando uma das garrafas à ele.
- Valeu Aninha. Essa aqui é a Camila, minha namorada. Amor, essa é a Ana, nossa faz-tudo da banda.
- Oi, prazer - digo me aproximando e lhe dando dois beijinhos na bochecha por educação.
- Prazer, tudo bem? - ela retribui os beijinhos e depois me entrega a garrafa de cerveja.
- Obrigada. Então, como assim "faz-tudo"? - questiono intrigada.
- É, faço de tudo um pouco. Ajudo os meninos a arrumarem as coisas, administro as redes sociais do DEMODES KILLERS, cuido da agenda dos shows, fecho negócios... essas coisas.
- É gata, foi a Ana quem descolou essa apresentação de hoje aqui no Audio Rebel - diz Chouri com orgulho.
- Sério?! - Fico surpresa.
- É, meu velho também é músico e tem uns contatos aí e foi assim que descolei dos meninos se apresentarem aqui hoje - se gaba ela.
- Aaah que legal! - digo tentando parecer o menos ciumenta possível. Como é que o Chouri nunca me falou dessa garota antes?
- Aliás Ana, seu pai vem hoje? Preciso muito falar com ele. Será que vai rolar mesmo  aquela apresentação em Pinheiros? - pergunta Chouri bem animado.
- Pelo o que eu estou vendo, vai rolar sim. Acho muito improvável deles furarem.
- ... Show em Pinheiros? - Pergunto.
- É amor, o pai da Ana me chamou pra tocar com ele no Sesc Pinheiros mês que vem! - responde Chouri com os olhinhos brilhando de felicidade.
- ... Pinheiros... em São Paulo? - ainda questiono.
- É, não é o máximo?! - confirma ele na maior euforia.
- O Antônio e o meu pai estão se dando super bem. Precisa ver os dois tocando juntos! É muito foda! - se gaba Ana Júlia.
- Imagino... - falo olhando bem séria pra eles dois. 
- Mas será que eu já devo ir comprando a minha passagem ou espero mais um pouco? - pergunta Chouri a Ana Júlia.
- Antônio fica de boa, a gente deve ir na Kombi com os outros músicos. Vai ser uma viagem foda e cansativa mas vale a pena e você se diverte muito com o pessoal no meio do caminho. Eles não param de zoar 1 minuto sequer! - explica ela.
- "A gente deve ir"? Então você também vai? - pergunto a Ana Júlia já num tom de voz mais ríspido.
- Bom... sim! É meu pai, né? Por quê não iria?!

Mas antes que eu pudesse dar uma resposta (e olha que ela já estava na ponta da língua!), eis que Davi chama os dois para o palco, o show já vai começar e eles precisam fazer o esquenta.

- Com licença, gata, eu vou lá - diz ele me dando um beijo na bochecha.

Depois, rapidamente, ele se vira, puxa Ana Júlia pela mão e os dois vão felizes e saltires para o palco.

OLHO PARA A CÂMERA E FALO:
- Mas que porra é essa?! O quê é que tá acontecendo aqui? Por quê o Chouri nunca me falou dessa tal de Ana Júlia ou do seu pai ou dessa apresentação no Sesc Pinheiros de São Paulo?! Eu tô muito por fora e eu não gosto de estar muito por fora!

Dou um mega gole na minha cerveja e fico olhando fixamente para o palco, vejo Ana ajudando os meninos com a passagem do som, testando os instrumentos, ela se acha A dona da parada. Ridícula. Só porque o cabelo balança. Dou mais um gole na minha cerveja e agora fico encarando Chouri. Vou sentar nessa cara bochechuda... viado, se você estiver me traindo com essa nanica eu juro que...

- Oi linda, tudo bem? - pergunta um chato que chega bem perto de mim.

Aaah não, só essa que me faltava. Cantada barata pra cima de moi!

- Tudo ótimo! - respondo com certa grosseria sem tirar os olhos de Chouri.
- Você... tá sozinha?
- Não. Não tô.
- Mas eu posso... te fazer companhia.
- Não. Não pode.
- Por quê não?
- Porque não.

Me afasto e vou para mais perto do palco. O chato vem atrás.

- Sabia que te achei linda?
- Sabia já que já chegou me chamando de "linda". 

Continuo sendo grossa pra ver se o cara se manca mas tá difícil!

- Além de linda você é bem humorada... - diz tentando alisar o meu rosto.
- NÃO ENCOSTA EM MIM QUE EU MORDO!
- Calma linda!
- E não me chama de linda que não te dei essa intimidade! Eu hein...

Dou as costas como resposta e vou para os fundos do Audio Rebel. Que saco, viu! Antes eu não tivesse vindo. Essa noite tá uma droga! Pego meu celular e tento me distrair com as postagens do instagram. Vejo uma foto nova do Gregório com o seu primo, depois da feira eles foram até o Buxixo beber para comemorar as vendas fartas do Churras do Paizão. Eles parecem tão felizes.. taí, antes eu tivesse ficado na feira e depois ido com eles beber no Buxixo.

O show começa. Chouri está mais animado do que o de costumo. Ana Júlia está praticamente sentada na beira do palco acompanhando tudo "de camarote". Eu continuo no fundão, observando a cena e tentando me animar. Pego o celular, faço uns stories, posto algumas imagens no meu face e marco o pessoal... enfim, o básico do básico.

No meio da apresentação o chato reaparece e se aproxima de novo! 

- E aí linda, curtindo o show?

AFF! Semancol zero! Faço que sim com a cabeça, lhe jogo um sorriso sem dentes  e volto minha atenção para o meu boy. Mas o chato insiste no papo:
- Sabe que eu acho um vacilo uma mulher linda como você sozinha aqui nesse canto.
- E quem disse que eu tô sozinha?
- Não tô vendo ninguém com você...
- Como não?! Olha esse povo todo ao meu redor!

E abro os braços e mostro a plateia a ele, como quem diz "tô acompanhada de toda a massa".

- Aaah você entendeu o que eu quis dizer, não te vi com nenhum cara a noite toda.
- Isso porque o meu cara tá ali, em cima do palco.
- Aaah então você namora com um dos caras da banda?
- NÃO! Namoro com aquela mina ali! - e aponto para Ana Júlia.

Sim, decidi sacanear o chato, insinuei que sou lésbica. Péssima ideia.

- AAAAAAAAAAAAH legal isso, cara! Muito legal! Sabe que eu nunca estive com uma mulher que curte mulher... diz aí, a sua mina é ciumenta?
- É! MUITO! E EU TAMBÉM!
- Mas a gente não pode... sei lá... se conhecer melhor? Nós 3? Ou só nós 2? - pergunta ele se aproximando mais ainda e tentando me segurar pela cintura.
- Cara, pela última vez, eu NÃO estou interessada, tá bem? - digo lhe dando uma cotovelada e me afastando.
- Aaah qual foi? Quando uma mulher diz que não é porque ela quer dizer que sim. - e ele me puxa novamente pela cintura.
- Eu não sou "uma mulher", eu sou a Camila e estou dizendo não e não, no meu vocabulário, quer dizer não mesmo. - digo lhe dando outra cotovelada.
- Uuuh, será que eu posso conhecer mais desse seu vocabulário? - diz se aproximando mais uma vez.
- Cara se manca, não quero nada contigo! - digo irritadissíma e lhe dando um empurrão.
- Adoro quando a mulher se faz de difícil... - ele insiste se aproximando novamente e tentando esfregar a pélvis na minha cintura.

AGORA JÁ CHEGA! CANSEI DE SER BOAZINHA! Levanto o dedo indicador na cara do sujeito e o ameaço:
- OLHA SÓ, CARA, SE VOCÊ NÃO ME DEIXAR EM PAZ EU VOU CHAMAR O SEGURANÇA!

Mas mais uma vez o chato leva o caso na brincadeira e segura minha mão, numa tentativa de me imobilizar e também me prender "pra ele".

- Calma linda, pra que essa raiva toda. Bora conversar e se entender. Se quiser te pago até uma bebida.
- ME SOLTA SEU IDIOTA! - grito o mais alto que posso enquanto puxo minha mão.

E eis que, do nada, Chouri aparece por de trás dele e aí a confusão começa:
- SOLTA A MINHA MULHER AGORA! - grita ele enfurecido.

E num reflexo, Chouri o puxa pelo ombro e depois lhe dá um empurrão, afim de afastá-lo de perto de mim. O idiota leva um susto e, por alguns segundos,
fica mudo e sem reação mas logo parte para cima de Chouri afim de mostrar que é tão macho quanto ele!

- QUAL FOI, CARA? - pergunta o chato partindo para cima de Chouri, lhe dando um brusco empurrão.
- QUAL FOI VOCÊ, Ô ANIMAL! SE METENDO COM A MULHER DOS OUTRO! CÊ TÁ MALUCO! - grita Chouri que revida o empurrão com mais força e mais raiva.

Corro e o seguro pela cintura afim e acalmá-lo:
- Chouri por favor, não faz isso!

Mas meu pedido é em vão, ele já está fora de si e só quer saber de pegar esse idiota na porrada. Sinceramente, no fundo eu quero que ele encha esse imbecil de porrada mas claro que deixo meu lado racional falar mais alto e peço que ele pare com a briga mas de nada adianta.

Chouri sai do meu abraço e dá um soco na cara do tal chato que cai no chão na hora. Todos ao redor param assustados para ver a cena.

- CHOURI NÃO! - Grito enquanto corro para segurá-lo de novo.

E eis que o idiota se levanta e se joga em cima de Chouri, revidando o soco e é aí que os dois caem na porrada! E a multidão começa a gritar, uns gritam porque estão assustados, outros gritam incentivando a pancadaria, e eu entro em desespero!

- CHOURI PARA COM ISSO, POR FAVOR!

Mas ele nem me ouve, está fora de si! Dando e recebendo supapos! Olho para os lados a procura de ajuda e vejo que Felipe e Davi estão vindo em nossa direção para 
separar a briga. E quando olho de novo para Chouri e para o chato, eis que vejo a coisa que não achei que fosse ver naquele momento: ANA JÚLIA, MAIS ENFURECIDA
QUE ELES DOIS, SE JOGANDO NAS COSTAS DO TAL CHATO.

- SOLTA MEU AMIGO AGORA, SEU CUZÃO! - diz ela.

WHAAAT?!!! Aquele meio quilo de ser humano se meteu na briga, pulou no cangote do chato, mordeu o seu pescoço e ainda conseguiu separar os dois! EU NUM TÔ
ACREDITANDO! E ao ver aquilo parece que Chouri fica mais enfurecido e dá uma cabeçada na barriga do cara que cai no chão, com Ana Júlia colada em suas costas! AÍ MEO DEOS, MATOU A BICHINHA!

- CHOURI, PARA AGORA! - berro correndo e o agarrando pela cintura.

E é aí que Felipe e Davi chegam e me ajudam a segurá-lo enquando um segurança e um dos caras que trabalham no local levantam o chato afim de resgatar Ana Júlia, que levanta numa velocidade absurda e, pasmem, ainda dá um tapa na cara do idiota!

- NUNCA MAIS VOCÊ ENCOSTA NELE, ENTENDEU! SENÃO VAI SE VÊ COMIGO, SEU CUZÃO!

WHAAAAAAT!!!! Gente, ela parece um chihuahua raivoso! É O ESTOPINHA EM FORMA DE MULHER! 


O chato fica muito puto com aquele tapa e ele até ameaça partir pra cima dela mas é contido pelos seguranças que o levam para fora do local. E com isso a briga chega ao fim. GRAÇAS A DEUS!

- TÁ AVISADO! NA PRÓXIMA EU MATO VOCÊ, SEU ARROMBADO! - grita Chouri ainda enfurecido enquanto é contido por mim e por Felipe e Davi.
- É! SOME DAQUI SEU BOSTA! - grita Ana Júlia que também é contida pela segurança.

Gente, kêki foi isso?!

- Calma cara, por favor, fica calmo - pede Davi.
- É Chouri, por favor, se controla amor!- peço com carinho e num tom de voz sereno enquanto seguro o seu rosto.

E ao poucos ele vai "voltando para o seu corpo". Nossa, nunca o vi desse jeito, nem sabia que ele era capaz de me defender assim. Sinto um mixto de medo com tesão... QUE HOMEM!

- Aninha, você tá bem? - pergunta ele indo em direção a Ana Júlia.
- Eu tô ótima! Já enfrentei cuzões mais fortes que esse aí! E você cara, como está?
- Tô bem também, o soco dele não faz nem cosquinha.
- HAHAHA, mô covarde, não é mesmo.
- É um bundão. Mas ô, valeu mesmo, baixinha. Você é demais!
- Que isso, tamô junto, mexeu com você, mexeu comigo!

E eles se abraçam. Um abraço repleto de carinho, de duplicidade, de... amor?!

...mas... que porra é essa, Michael?


OK Cacau, calma, calma e foco. A mina acabou tomar um supapo por ele, ela merece esse abraço... OK, menos abraço por favor... OK JÁ PODEM SE SOLTAR, PORRA!

- Você é uma amiga e tanto - diz Chouri lhe dando um beijo na testa e depois a solta lentamente.

FINALMENTE!

E é aí que ele se vira e vem falar comigo:
- Você tá bem?
- Fisicamente tô sim!
- Ótimo, vamos pra casa.

E ele me pega pelo braço e já me leva pra fora do recinto. Sinto que está puto... mas peraê, puto comigo? COMIGO? Eu sou a vítima, cacete! Como pode estar puto comigo?

Rapidamente a gente se despede do pessoal e vamos embora e mal colocamos os pés para fora do Audio Rebel e ele faz sinal para o primeiro táxi que passa.

- Amigo, Rua da Laranjeiras 336 - diz ele rapidamente ao taxista enquanto abre a porta de trás do carro e me faz entrar primeiro.

Chouri está com uma pressa pra ir embora, cruzes. Entro em silêncio e me sento, ele entra em seguida, também mudo feat calado, e se senta ao meu lado. O taxista nada diz também, só liga o taximetro e arranca com o carro. E fica aquele silêncio constrangedor entre nós 3. 

Não aguento, preciso falar algo... mas vou falar algo bom, dócil, algo com amor e brandura para não azedar ainda mais o clima.

Lá vai:
- Ô seu feladaputa por que você tá puto comigo se foi o cuzão lá que deu em cima de mim?!

OK, isso não é bem amor e brandura mas saiu sem querer.

- EU FALEI PRA VOCÊ NÃO IR COM ESSA ROUPA! ELA TÁ VULGAR DEMAIS! - ele grita.
- VULGAR?! - revido o grito.
- É, VULGAR! TÁ PARECENDO UMA PUTA!
- O QUÊ? - eu não tô acreditando que ele disse o que disse.
- É, a culpa é sua, Camila! Eu falei pra não usar essa porra de saia! Provocou o cara e deu no que deu! Se não sou eu pra te defender...
- MOTORISTA PARA ESSE CARRO AGORA! - Exijo ao taxista.
- Mas moça... - ele tenta explicar.
- PARA AGORA! AGORA! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!!! - e começo a gritar o mais alto que posso até que ele para o carro bem no meio da rua.



Por sorte não vinha nenhum carro atrás e eu pude descer na santa paz de Deus... ou quase... 

- VOLTA AQUI AGORA, CAMILA! - grita Chouri também saindo do carro e vindo na minha direção.
- HEY, QUEM VAI PAGAR ESSA CORRIDA, AQUI, Ô?! - pegunta o taxista.
- EU NÃO VOU VOLTAR! VAI PRO INFERNO, ANTÔNIO! - grito já com os olhos cheios d´agua - E PUTA É A SENHORA QUE TE PARIU!... sem querer ofender a sua mãe, é claro... MAS VAI PRA PUTA QUE TE PARIU E EU USO A ROUPA QUE EU QUISER PORQUE O CORPO É MEU E QUEM PAGA MINHAS CONTAS SOU EU E VOCÊ NÃO TEM NADA A VER COM ISSO, CARAÍ!
- ENTÃO PAGA O TÁXI AQUI, Ô - grita o taxista que ainda não se deu conta que está atrapalhando uma DR serissíma.

E enfurecido Chouri corre na minha direção e me puxa pelo braço.

- OLHA SÓ, GAROTA... - diz ele colocando o dedo na minha cara.

E o que faço ao ver aquele dedão bem no meio dos meus córnis... mordo, claro.


- AAAAAAAAAAAAAAH! TÁ MALUCA! - grita ele com mais raiva e com dor.
- MALUCO TÁ VOCÊ DE FAZER ISSO! NUNCA MAIS, OUVIU BEM, NUNCA MAIS PONHA O DEDO NA MINHA CARA E NEM ME PUXE PELO BRAÇO E MUITO MENOS ME CHAME DE PUTA PORQUE EU NÃO SOU TUAS NEGAS PRA ME TRATA DESSE JEITO!
- VOCÊ É MINHA MULHER!
- SUA MULHER E NÃO SUA PROPRIEDADE! SEMPRE TE RESPEITEI E EXIJO RESPEITO EM TROCA E SE VOCÊ É INCAPAZ DE ME DAR ISSO ENTÃO NOSSO NAMORO MORRE AQUI E AGORA E NÃO OUSE ME PROCURAR NUNCA MAIS! - berro enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto.

Aí meu rímel MAC...

- E A CORRIDA?! - pergunta o taxista nem um pouco comovido com aquele término trágico que estava acontecendo diante de seus olhos.

Virada no Jiraya eu volto novamente para o táxi, abro a bolsa e jogo o dinheiro na cara do taxista:
- AAAH CARALHO, TOMA AQUI A PORRA DO DINHEIRO DA CORRIDA! TÁ FELIZ AGORA?


Pronto, corrida "paga", agora eu vou... pegar outro táxi. Chouri ainda vem atrás de mim para mais uma rodada de gritarias mas não aguento mais aquilo. Apenas me viro pra ele e falo:
- CHOURI... acabou, entendeu? ACABOU! - berro de raiva.

E ele para e fica me olhando sério e, ao mesmo tempo, chocado e arrependido... até eu estou meio chocada com o que houve e já arrependida pero no mucho.

Enxugo as lágrimas que começam a escorrer pelo meu rosto e lhe dou as costas como resposta e saio correndo até avistar outro táxi.

Desesperada, dou o sinal ao taxista.

Ele para.

Entro e peço ao taxista que vá embora o mais rápido possível e ele assim o faz.

Que cena, meu pai. E que noite! E que término de namoro mais merda.


3 dias, 9 ligações e 15 mensagens depois, eu decido atender ao chamado de Chouri. Ele insiste que devemos conversar. Aceito a proposta e marco com ele no Moviola às 19h30, depois do meu expediente. E às 19h30 em ponto eu chego e já dou de cara com ele sentado em uma das mesas, me esperando. Ao me ver se aproximar ele se levanta ansioso. Tento não manter o contato visual e entro de cabeça baixa. Mas o foda é que já estou com uma vontade master de chorar. Foco Camila, FOCO!

Me aproximo dele, ainda de cabeça baixa, e digo apenas um sonoro e gelido "oi".
- Oi gata - diz ele me dando um abraço forte e carinho.

Não vou chorar, não vou chorar, NÃO VOU CHORAR!... chorei...


AAAAAAAAAAAAH, COMO EU ODEIO ISSO!

Agora o que mais me surpreende é que... o Chouri também tá chorando! Ele tentou se segurar mas...


E é aí que a gente se abraça bem forte enquanto choramos feito dois bebês. Imaginem a reação da atendente do local ao nos ver. 


E depois de muito chororô, eis que ele me solta, seca as lágrimas e começa a falar:
- Me desculpa, me desculpa de verdade, eu não deveria ter te tratado do jeito que te tratei. Eu perdi a cabeça quando vi aquele imbecil dando em cima de você, forçando a barra, eu queria matar aquele filho da puta! Daí deixei a raiva falar mais alto e acabei descarregando tudo em cima de você e isso foi nada a ver! Você pode e deve usar a roupa que quiser e você é minha mulher e não minha propriedade. Eu prometo nunca mais te tratar do jeito que te tratei. Aliás você estava muito gostosa naquela saia, viu...
- Chouri! - me assusto.
- Mas tava! É verdade! Não quero e você não deve mudar quem é por causa de ninguém.

Isso é verdade e foi muito bonito de dizer.

- Me desculpa, vai... 
- ...Chouri se você me chamar de puta mais uma vez...
- ...você pode cortar meu pau fora.
- ...com os dentes.
- ...aí... com os dentes...
- ... e vou pendurá-lo no poste pra todo mundo vê.
- ...acho justo.
- ...e depois vou comer teu folio virgem.
- ...ok...
- ...no estilo Pulp Fiction.
- TÁ BOM, CHEGA!

E assim a gente se perdoa, e a gente se abraça, e a gente se beija, e a gente vai para a minha casa, e a gente faz sexo de reconciliação (que é muito bom, diga-se de passagem), e a gente se entende. Afinal antes de sermos amantes somos amigos e amigos se perdoam. 

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Cacau dos Santos

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Sobre a série

Projeto com conteúdo 100% autoral, baseados em situações que ocorreram em minha vida. Alguns personagens são fictícios, outros tiveram seus nomes e características físicas alterados para preservar a identidade real dos envolvidos.

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